Haga é um bairro pequeno, com imensa coisa concentrada em tão pouco espaço. Apetece percorrê-lo de um lado da rua, virar e passar para o outro lado para que nada escape num passeio que mereceria todo o tempo do mundo. E entrar noutra rua logo a seguir. O cenário é perfeito para recuar ao passado e descobrir os últimos gritos da moda e do design. Ao fundo da rua, está uma miúda que agarra num megafone que lhe distorce ligeiramente a voz que sai doce e quente. Recuamos, num ápice, aos anos 20 e 30 do século passado. Quem passa, não resiste a parar para ver a miúda de voz terna, de swing no corpo e na voz. Pequena na estatura, grande na voz. Senhoras e senhores, os Swing Tarturo que nasceram nas ruas de Gotemburgo no Outono de 2009 dão um pequeno concerto sem cobrar bilhete, recebem apenas o que cada um quiser dar. Ela tem um colar de pérolas, calças às riscas. Eles acompanham-na na voz e no vestuário à antiga. Um toca contrabaixo, outro guitarra, e o do trompete toca e faz sapateado. Nova Orleães? Porque não? Todos de sorriso generoso, brilho nos olhos, que acrescentam ainda mais charme ao bairro de Haga. Junto ao grupo, está um bebé num carrinho que conhece bem aqueles ritmos — arriscaríamos, sem quase margem para erro, que é filho de um casal da banda. Sentado no carrinho, dá saltos ao som da música sob o olhar atento de todos os elementos da banda. Nós batemos o pé e abanamos a cabeça em alguns momentos. Haga sabe tão bem sem guias turísticos por perto a olhar para o relógio. “É isto que fazemos para viver, se quiserem contribuir com alguma coisinha”, avisa um dos músicos no final do concerto que soube a pouco.
Festa em três pisos
Olhamos para uma parte do telhado que é de vidro e vemos que lá fora ainda é dia. São dez da noite. Voltamos a acertar o fuso horário na nossa cabeça para nos habituarmos que ali a noite cai mais tarde. Olhamos à volta e há festa. Muita festa neste hotel que decidiu comemorar a remodelação que lhe deu um novo look. A moda é a inspiração e os quartos têm manequins de prova às janelas, molduras juntinhas de vários tamanhos nas paredes, uma chaise longue ao lado da cama. O Scandic Rubinen, a nossa primeira morada em Gotemburgo, sabe tratar bem os hóspedes e reservou três dos sete pisos para a celebração que não tem hora para acabar. O DJ escolhe músicas e, vez em quando, canta algumas com microfone. Parece um pouco envergonhado quando os olhares lhe caem em cima no momento em que aquela música não é bem aquela música, está ligeiramente diferente com um anexo cantado em directo. Habituamo-nos e achamos piada. Há mulheres que dão as boas-vindas, vestidas com espartilhos que lhes moldam as silhuetas e conferem uma pitada de barroco ao cenário. Há vinho espanhol que sabe a champanhe e cerveja sueca. E comida à disposição num serviço self-service que não deixa esgotar qualquer prato. A festa está também no último piso, sétimo andar, no terraço do hotel com vista sobre a cidade que começa a adormecer. Anna percebe que não somos dali. Mete conversa e acompanha-nos na animada festa. Tem olhos azuis, lindos de morrer, pele branca, cabelo curto, assimétrico, o lado direito não é igual ao lado esquerdo. De onde é? Mas alguém duvidaria que é sueca? “Quem adivinha?”, pergunta-nos. Anna esclarece que não é sueca. Começam os palpites. Mas alguém se lembraria que é polaca? Ninguém. “Sou polaca, mas estou na Suécia desde os cinco anos.” O Scandic Rubinen continua animado e Anna quer saber mais sobre Portugal e dividimo-nos entre o que é bom e o que é mau. “Como se vive no vosso país?”. Bem, voltemos à festa.