Birgitta Ekesand é a guia sueca que nos conduzirá pela cidade e nos dará a conhecer alguns dos mais belos sítios de Gotemburgo, duas ilhas incluídas. Tem anos suficientes para nos avisar, subtilmente, que os suecos não perdoam atrasos, que a pontualidade é respeitada ao segundo. Os transportes públicos confirmam que assim é: quem conduz osferries cumpre horários de partidas e chegadas a terra ao milímetro. Birgitta também está contente com o calor que se faz sentir e ajuda-nos a compreender como se vive emGotemburgo. Avisa-nos que será difícil comprar o que quer que seja com os euros que trouxemos na carteira, o melhor é fazer o câmbio ou pagar com cartão de crédito. E os preços Birgitta, e os preços? A regra é simples e resulta por aproximação. Olha-se para os preços em coroas suecas, que normalmente têm mais números do que nos euros, e arredonda-se à décima, ou seja, coloca-se uma vírgula no número a partir da direita, e então pensamos em euros. Mais coisa, menos coisa. Gotemburgo é uma cidade nórdica e, por isso, tem um nível de vida acima da média, embora, à primeira vista, a luxuosidade não pareça andar a arrastar as asas pelas ruas.
Estamos numa cidade com história. Desconfiamos, mas quisemos confirmar. Birgitta tira as dúvidas. O rei que fundou a cidade em 1621, Gustavo II Adolfo, lembrado em imponentes estátuas erguidas em sua honra, chamou os holandeses para darem uma mãozinha na construção de Gotemburgo, que se afirmaria como um dos mais importantes portos da Suécia. E assim surgiram os vários canais que vão serpenteando ruas, parques, monumentos. Os canais são também uma forma de conhecer sítios de uma outra perspectiva. Voltinha de barco por Gotemburgo, a cidade sueca que descartou a possibilidade de ter metro na terra quando percebeu que não era boa ideia escavar em terrenos pantanosos. Pois, de facto, ainda não tínhamos visto escadas em direcção à terra. Tudo à superfície, portanto, e com muito orgulho e vaidade, como haveríamos de escutar da guia do nosso passeio marítimo.
O barco parte no rio e as vistas alargam-se por outros horizontes. Pelo meio das explicações nas doses certas — sem serem chatas ou debitadas a uma rapidez que o cérebro não consegue acompanhar —, das chamadas de atenção para a arquitectura das pontes, algumas delicadamente trabalhadas no ferro, surge um inesperado aviso. Uma ponte mais baixa do que o habitual aproxima-se e obrigará os passageiros a agacharem-se, quase a deitarem-se, abaixo do nível das cadeiras do barco sem tecto. Acreditamos? Acreditamos. Todos preparados para o momento, não somos muitos na verdade, mas todos se riem depois de passar por debaixo da ponte que ficou a centímetros das nossas cabeças. O passeio continua. Lá ao fundo, surge o imponente edifício, já lhe tínhamos deitado o olho sem saber patavina da sua história e achado uma certa graça. Oitenta metros de altura, 23 andares, um café no topo que, e não duvidamos, permite uma vista privilegiada de quem olha de cima. A cidade a seus pés. Gotemburgo gosta de alcunhas, não resiste ao lado prático da vida. Aquele edifício de escritórios, vermelho e branco, mais estreito no topo do que na base, não tardou a ser baptizado. É conhecido como lipstick, ou seja, batom. Há quem prefira chamar-lhe casa de Lego que, de certa forma, também faz jus à estrutura. A cidade é imponente na proporção certa. Há alguns edifícios altos, é certo, mas quem circula não sente prédios a destoar na paisagem ou a asfixiar ruas.Gotemburgo é moderna, mas tem uma costela antiga que se orgulha de preservar contra ventos e marés e incêndios também. Haga surge-nos então no roteiro. Birgitta abre-nos o apetite pelo caminho. “Tem muitas lojas de antiguidades”. Pois tem.