Miguel trabalha neste hotel e sabe como se vive em Portugal. Filho de pai português e mãe sueca, chegou a Gotemburgo depois de ter trabalhado num hotel em Lisboa. Não olhou para trás e não se arrependeu. Está num cargo com menor responsabilidade, mas ganha mais. Entregamos-lhe a chave, agradecemos a estadia e simpatia, e Miguel responde-nos em português. Um, dois, três segundos, até percebermos que não estamos em Portugal. Miguel coloca-se ao dispor, guarda-nos as malas, volta a buscar as que afinal vão para o passeio. Vai e vem sem se chatear. Deseja-nos boa estadia na cidade que agora é sua. “E se precisarem de alguma coisa, estou aqui.”
As malas serão transportadas para outro hotel que era o local que recebia toda a correspondência de Gotemburgo. O edifício é imponente, a dois passos da estação de comboios e da central rodoviária da cidade, com uma praça cheia de bicicletas em frente e animação constante. O Clarion Hotel Post não passa despercebido por muitas razões. Aquele prédio tem uma piscina no terraço e uma vista a quase toda a volta. Está quase a fechar, mas pedimos uns segundinhos para tirar umas fotos. O hotel tem 500 quartos e várias salas para festas, apresentações de moda, despedidas de solteiros, festas de final de ano, tudo o que se possa imaginar. No hall está um marco do correio em tamanho gigante que é o check out express — paga-se no dia anterior e na hora da partida basta colocar o cartão do quarto no marco vermelho para evitar esperas. Na parede em cima dos elevadores, estão peças de carros dos correios espalmadas e que compõem um quadro. Aquela história é preservada com fotos antigas, a preto e branco, espalhadas pelos corredores, de antigos espaços dos correios, de funcionários que tratavam das cartas, da vida que ali se viveu. Abriu em 2012 como um hotel moderno. Tem ginásio, cabeleireiro, sauna, barbeiro, massagens.
Pérolas no mar
Anda-se bem no Mar do Norte. Gotemburgo tem pérolas espalhadas no oceano, pequenas ilhas, e alguns rochedos também, no arquipélago Norte e no arquipélago Sul — 10 em cada um que valem a pena conhecer, haja tempo para isso. O céu está limpo e a viagem de ferry é tranquila. A maior parte dos passageiros prefere a parte de cima do barco, sem cobertura, com vista privilegiada, uma ligeira brisa a arrefecer o corpo. Vrängö, a ilha de pescadores, fica a meia hora. Até lá, há algumas ilhas para ir espreitando mais ao perto, ou mais ao longe. Pé em terra e um pedaço de território pela frente que não parece comandado pelos ponteiros do relógio. Ali não há carros a circular, há bicicletas, motos verdes com atrelados à frente ou atrás, carrinho de golfe. As casas são de madeira, baixinhas, algumas têm janelas generosas. Há jardins com barcos à porta, caixas de correio azuis pintadas com flores coloridas, parques infantis no meio de tanto verde. Estamos numa comunidade de pescadores, numa ilha com cerca de 400 habitantes e onde o tempo passa devagar. Numa ponta da ilha, estão os barcos que trazem algum do melhor peixe e marisco que se comem em Gotemburgo. Uma marina comunitária, com bancos e mesas de madeira, colocados ali a pensar em famílias, e fogareiros à disposição. Não há muita gente naquela sossegada manhã. Os homens partiram para o mar, as crianças estão nos jardins-de-infância, as mulheres andam nas suas vidas. Alguns partiram para os seus trabalhos na cidade para só regressarem ao fim do dia.