Fugas - Viagens

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No Liechtenstein, a história de uma poderosa família real confunde-se com a do país

Nenhum outro país no mundo tem o nome das pessoas que o compraram e a história do Liechtenstein (a quem os locais gostam de chamar Laendle, como apreciam designar Vaduz como Staedtle, diminutivos de país e de cidade) recua até ao tempo em que o príncipe austríaco Johann Adam von Liechtenstein comprou a uns nobres alemães à beira da falência os condados de Schellenberg, em 1699, e de Vaduz, em 1712, pouco antes de passar a ser conhecido como Liechtenstein e se transformar num principado sob as ordens do Sacro Império Romano-Germânico. A independência chegou em 1866 e, em 1923, foi assinado um acordo aduaneiro com a Suíça, cuja moeda, o franco suíço, circula oficialmente desde então no Liechtenstein, visto não raras vezes como uma extensão do vizinho mas que, na verdade, tem uma política externa bem distinta: é membro da ONU desde 1990 e integra, sem a companhia da Suíça, a Área Económica Europeia desde 1995.

Se a goleada é a primeira palavra que os portugueses associam ao Liechtenstein, a segunda é paraíso, não pela quietude que tão bem expressa, mas pela questão fiscal. Os constantes rumores de lavagem de dinheiro têm levado as autoridades a aumentar a vigilância e, desde 2000, os clientes com contas anónimas em bancos do principado foram banidos, numa decisão importante mas que, segundo alguns, está longe de acabar com alguns negócios pouco claros que, de uma forma ou de outra, afectam a imagem do país.

Hans-Adam II, o soberano, tem procurado, nos últimos anos, combater qualquer processo de lavagem de dinheiro internacional mas o homicídio, já este ano, de Juregen Frick, director do Banco Frick, vem ensombrar uma vez mais a legitimidade do Liechtenstein em tratar as questões bancárias. O autor dos disparos — no interior da garagem do banco, em Balzers — Juergen Hermann, que se suicidou no mesmo dia e se proclamava como o Robin dos Bosques do Liechtenstein, era um conhecido gestor de fundos que, há já alguns anos, estava no meio de uma disputa entre a entidade bancária e o governo local, alegadamente num processo que envolvia a astronómica quantia de 165 milhões de euros.

A paz e a anedota

“As pessoas no Liechtenstein valorizam muito uma atmosfera calma. Aqui nunca há verdadeiramente agitação. Quem procura um pouco mais de acção tem cidades como Munique, Zurique ou Milão, onde se chega de carro em uma a três horas.”

O director de comunicação do turismo, como tantos outros compatriotas, é um apaixonado pela natureza. Olha-se à volta e o que nos envolve é um verde viçoso que parece ter qualquer coisa de magnético, vivendo em perfeita harmonia com uma tranquilidade permanente.

Um território de paz, com as suas regras bem definidas e respeitadas, um lugar onde não há lugar para a obsessão com a segurança, como se nota no Schloss Vaduz (vale a pena a caminhada para uma panorâmica soberba sobre o vale e as montanhas), vigiado apenas por um guarda, ou no facto de o Liechtenstein não ter exército desde 1868 — e a sua neutralidade foi respeitada tanto durante a I como a II Guerra Mundial. A última participação num conflito ocorreu dois anos antes, em 1866, uma história que baila entra a realidade e a ficção: o Liechtenstein terá enviado um contingente de 80 homens para a guerra austro-prussiana e todos eles regressaram sem qualquer ferimento. Mas, uma vez feita a contagem, os oficiais detectaram que havia uma unidade a mais.

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