Fugas - Viagens

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No Liechtenstein, a história de uma poderosa família real confunde-se com a do país

Na manhã do dia seguinte, ainda sob um sol tímido, rumo ao sul do principado, uns meros seis quilómetros que me deixam em Balzers, a vila que é dominada pelo imponente castelo rodeado de vinhedos por todo o lado e que sobe nos céus no topo de uma colina que já era habitada no Neolítico. O Burg Gutenberg está situado 70 metros acima de Balzers e de Mäls, sem que se consiga distinguir onde acaba uma e começa a outra, a despeito de uma certa rivalidade (saudável) que ganha maior expressão na Primavera, durante o cerimonial do Funkensonntag, em que cada uma delas acende a sua própria fogueira no domingo a seguir à quarta-feira de cinzas.

A efígie de uma bruxa, conhecida como Funkenhexe, encima uma torre (hoje em dia não pode ultrapassar os 20 metros mas no passado existia forte competição entre as aldeias para ver quem erguia a mais alta) construída com troncos de madeira e, com a ajuda de uma grua, cheia com pedaços mais pequenos que, por tradição, eram recolhidos pelas crianças nas florestas em redor das povoações. Também por tradição, muitas vezes as bruxas eram roubadas das aldeias mais próximas e apenas eram devolvidas mediante o pagamento de um resgate, por norma em cerveja. O momento em que a bruxa explode, no topo da fogueira, marca o final do Inverno.

De olhos postos no castelo, percorro um trilho solitário enquanto vou sentindo a doce fragrância que me chega desde as vinhas, brilhando à luz dos raios tépidos do sol da manhã e protegidas por uma rede da cor do céu para afastar os pássaros. O Burg Gutenberg foi construído durante a Alta Idade Média e algumas descobertas arqueológicas foram feitas no local, a mais importante das quais uma pequena figura com apenas 12 cm, a Mars von Gutenberg, em exibição no Museu Nacional do Liechtenstein. Originalmente uma igreja com um cemitério anexo, o castelo permaneceu em ruínas ao longo de séculos, antes de ser restaurado entre 1905 e 1912, passando pelas mãos de diferentes proprietários privados até ser adquirido pela família real em 1979.

Durante os meses de Verão, é palco de um razoável número de eventos culturais e, ao longo do ano, é possível caminhar junto às muralhas ou dar uma espreitadela na pequena capela e no bonito roseiral que contribui para compor um quadro tão harmonioso, exacerbado pela soberba panorâmica que se tem desde o topo da colina.
O Liechtenstein pode ser um país pequeno, que se percorre em poucas horas, mas que oferece nada mais nada menos do que 400 quilómetros de trilhos, muitos deles encarados numa total solidão. O mais famoso de todos é o Fürstensteig, um ritual de passagem para todos os liechtensteinenses que exige uma boa condição física e não é de todo aconselhável a quem sofre de vertigens. Por vezes o trilho é estreito, em outras é necessário recorrer a uma corda para prosseguir a caminhada, um total de quatro horas que, perante tanta beleza natural, deixa o turista deslumbrado.

Tal como o Fürstensteig, também o Drei-Schwestern-Weg (o caminho das três irmãs) é um clássico e ambos estão ligados por um trilho com vistas de cortar a respiração – que se estendem, desde o ponto mais alto desta caminhada, o Kuhgrat, a 2123 metros, até à Cordilheira do Rätikon, as montanhas suíças e do Voralberg, na Áustria, mas também das aldeias ao longo das margens do Reno e mesmo do Lago Constance.

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