Fugas - Viagens

Continuação: página 3 de 7

No Liechtenstein, a história de uma poderosa família real confunde-se com a do país

Alegadamente, um amigo italiano, também soldado, ter-se-á deixado convencer a rumar ao Liechtenstein em vez de regressar ao seu país, provavelmente desconhecendo quão limitada era a área do novo eleito, uns modestos 26 quilómetros de comprimento por seis de largura (um total de 160 km2), sem fronteiras marcadas e alvo de situações do reino das anedotas, como a que fez rir muita gente, em 2007, perante uma “invasão” suíça. Em exercícios nocturnos de rotina, uma companhia de infantaria de 170 soldados helvéticos perdeu-se nas montanhas e marchou durante quase dois quilómetros em território vizinho antes de se aperceber do equívoco que, embora sendo do conhecimento das autoridades dos dois países, não motivou o mais pequeno incidente diplomático.

Com um efectivo policial composto apenas por 80 oficiais e 40 civis (o número tem vindo a aumentar na área do crime económico) e sem um controlo rigoroso nas entradas ou saídas do principado, torna-se difícil calcular o número de turistas que o visitam. Muitos fazem-no de passagem, como ponte entre a Suíça e a Áustria, outros tantos apenas para dizerem aos amigos que estiveram no país ou para carimbar o passaporte, em muito menor percentagem para um passeio panorâmico de comboio por Vaduz que se esgota ao fim de 35 minutos.

“Recebemos uma média de 70 mil visitantes por ano, o que corresponde a 140 mil dormidas”, garante Martin Knöpfel, que recusa a ideia de que o país é procurado apenas pelos amantes da natureza.

“Penso que é uma mistura de muitas coisas numa tão curta distância. É claro que temos o privilégio de atrair turistas pelos nossos espaços verdes mas no Liechtenstein também é possível passar bons momentos culturais ou gastronómicos, com a vantagem de que é perfeitamente viável, mesmo num dia de semana, fazer uma caminhada nocturna ou simplesmente almoçar, no Inverno, nalguma estância antes de esquiar.”

O vinho do príncipe

Deixo o olhar vaguear pelo vale ainda envolto numa luz tão delicada, o verde em contraste com um céu tão azul e órfão de nuvens. De todo o lado se avista o Schloss Vaduz, as vinhas estendem-se, para cá e para lá, como ondas suaves banhando a paisagem.

Se a entrada no castelo me está vedada, a mim e a todos os turistas, a Hoffkelerei des Fürsten von Liechtenstein, que é como quem diz a adega do príncipe do Liechtenstein, abre as suas portas com relativa facilidade (mais a grupos e mediante reserva), para uma amostra de vinhos de boa qualidade, que vão das castas Riesling à Gewrztraminer, passando pela Gruner Veltliner, Pinot Noir (o microclima favorece esta última, considerada a diva dos vinhos locais) e Chardonnay, muitas delas colhidas nos pouco mais de quatro hectares de vinha que, sendo pertença do príncipe, rodeiam uma boa parte da Casa Vermelha, uma mansão com 400 anos que se ergue na montanha (apenas pode ser vista à distância) e que contém, entre outros artefactos, uma prensa de vinho do século XVII, se bem que a paixão pela produção do néctar dos deuses no Liechtenstein quase não se fez notar antes do último quarto do século passado.

--%>