Fugas - Viagens

Continuação: página 4 de 7

No Liechtenstein, a história de uma poderosa família real confunde-se com a do país

E, uma vez mais, o Liechtenstein destaca-se pela magreza dos números: segundo dados das Nações Unidas, o país produz apenas 80 toneladas de vinho por ano, o que lhe garante o estatuto de mais pequeno produtor do mundo — para se ter uma perspectiva de comparação, a França chega aos cinco milhões.

Com um dos mais altos PIB per capita do mundo, o Liechtenstein importa quase tudo (incluindo 85 por cento da energia) mas o peso das exportações supera claramente o das importações. E se, no vinho, ocupa um dos últimos lugares (é basicamente para consumo local) do ranking mundial, já o mesmo não se pode dizer em relação ao fabrico de dentaduras postiças: nenhum outro produz tantas no mundo. O país é altamente industrializado (41 por cento da mão-de-obra e muita dela proveniente dos vizinhos Áustria, Suíça e Alemanha mas também têm grande peso na economia os serviços) e no espaço de 20 anos duplicou as exportações, tendo como principais clientes os Estados Unidos, a Suíça e a Alemanha.

Ainda assim, a despeito do peso da indústria, alguns lugares mantêm o seu charme, aldeias pacatas espalham-se por aqui e ali e, se Vaduz se mostra incapaz de provocar uma atracção imediata no viandante, uma dúzia de minutos a caminhar, até Mitteldorf, recordam como era a vida em tempos de antanho. Nesta rua que também é um bairro, a norte do centro, as pedras polidas conduzem-me até ao antigo coração da aldeia, até aos dias em que ainda não se havia tornado capital de um estado soberano, com as suas casas elegantes, os seus jardins bem tratados e a sua indolência teimosa.

De volta a Vaduz, com os seus seis mil habitantes, o sentimento de errar por uma aldeia mantém-se praticamente intacto mas o passeio, sem pressas, revela-se agradável, numa tarde inteiramente dedicada à cultura. Começo pelo Museu de Arte, desenhado pelo arquitecto suíço Meinrad Morger e com uma interessante mostra de arte moderna e contemporânea, passo pelo Museu Nacional, para absorver um pouco mais da história do principado, e termino nos Correios e Museu do Selo, que recorda a longa tradição dos serviços postais do país. Fundado em 1930, abriu as suas portas ao público seis anos mais tarde, apresentando impressionantes colecções de selos editados no Liechtenstein desde Fevereiro de 1912. Ainda hoje, a filatelia continua a atrair ao país um grande número de curiosos — calcula-se que dois terços dos 40 mil selos editados anualmente acabam por parar nas mãos de coleccionadores de 66 países do mundo.

A noite está prestes a cair sobre a cidade, vou vagueando, lançando olhares às muitas esculturas que decoram as ruas, às pessoas, aos carros das melhores marcas, às esplanadas que se enchem, aos restaurantes com a sua luz mortiça e convidativa e acabo por entrar no Torkel, tão próximo das vinhas do príncipe, já fora do centro. Sinto o cheiro da madeira, olho em volta como quem espera ver, de um momento para o outro, Hans-Adam II sentado a uma das mesas com os seus amigos de negócios, como faz com frequência.

De Balzers às montanhas

--%>