Fugas - Viagens

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Os desbravadores de montanhas

Por Rute Barbedo

Os runners andam aí, pela estrada, areais e encostas serrenhas. Os que se fartam do asfalto descobrem, um dia, que os trilhos de terra dos pastores e caminheiros servem para correr.

Já foram dezenas; hoje são milhares. O trail running ganha novos adeptos e provas (dos 10 aos 100 km) todas as semanas, e anda a desbravar a terra para pintar as pernas de lama e sangue arrancado pelas silvas.

– Haviam de comer broa de milho, chouriço e presunto. Para aguentar isto!

– E umas boas copadas por cima!, diz o outro.

Perguntamos como conhecem a serra.

– Como a palma das mãos. Íamos muitas vezes à Senhora do Minho, por ali acima. Mas não era a correr, não…!

Riso generalizado.

– Mas isto é bom, insiste ela. A aldeia fica mais conhecida e as pessoas consomem.

– E andaram a limpar o monte. Daqui a bocado nem as cabras passavam ali… Se não fossem as corridas, ninguém limpava nada.

– Pois… É o turismo, remata o mais velho.

Nem todos os domingos acordam tão cedo quanto este em São Lourenço da Montaria, aldeia carregada de granito e de Alto Minho. Pouco passa das 9h e o Café Montariense já ergueu os estores e lançou três mesas ao pátio. Na primeira, cinco serranos de idades entre os 50 e os 75 anos debatem coisas da vida — como a cerveja ser um repulsor de abelhas ou a vegetação ter sido devastada nos incêndios de Verão.

No minimercado, o primeiro do largo a abrir portas, ainda a máquina de café não aqueceu e já um homem de calções de licra e sapatilhas fluorescentes compra um cacete galego e uma garrafa de vinho verde. “É o dia do ano em que há mais movimento, até mais do que nas festas de Agosto”, diz Daniel Brito, o proprietário, natural da freguesia com cerca de 600 moradores (registados) que hoje recebe 2000 visitantes sedentos de corrida.

O que se faz na Montaria? “Leva-se uma vida pacífica, com um bocadito de agricultura, um bocadito de turismo… Há os moinhos, os percursos pedestres… E agora com as corridas as pessoas conhecem mais isto e até vêm aqui a meio do ano fazer caminhadas.” O comerciante interrompe a conversa para cumprir o seu papel: “Vai um cheirinho, senhor Vítor?” Volta para dar graças a Deus que “o céu limpou de repente”, quando todas as nuvens prenunciavam o contrário. “Esta semana até houve inundações no Alentejo, veja lá! O que seria destas pessoas todas se andassem por aí a correr com chuva?”

Junto ao cruzeiro, homens de um lado, mulheres do outro. Olham curiosos as mochilas ergonómicas e os adesivos psicadélicos colados às pernas; as selfies tiradas com câmaras de dez centímetros e cabos de metro e meio; o vaivém de carrinhas que transportam os runners da montanha, apetrechados, compenetrados, cheios de adrenalina.

Ao todo, em dois dias de eventos — 27 e 28 de Setembro — há 1987 pessoas a participar nas seis provas do Grande Trail da Serra d’Arga: o ultra-trail (53 km), o trail longo (33 km), o curto (20 km), a caminhada (13 km), o trail jovem (entre os 500 e os 2000 metros) e a corrida vertical (4,5 km e 800 metros de desnível positivo). Há quatro anos, na primeira edição, os participantes não chegavam aos 700, e “há sete ou oito anos organizavam-se provas no quintal do amigo”, ilustra Carlos Sá, o primeiro ultramaratonista profissional no país e organizador da prova da Serra d’Arga.

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