Fugas - Viagens

  • Rute Obadia
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  • Goran Tomas Evic/Reuters
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De Luxor a Assuão, viagem num Egipto à espera dos turistas

Dois homens guardam a entrada em cima, outro vigia os turistas lá em baixo (lá, como em todo o Vale dos Reis, é proibido tirar fotografias). Naquele espaço diminuto, onde entram apenas umas cinco pessoas de cada vez, é difícil imaginar toda a parafernália de objectos que tínhamos visto no museu do Cairo — e que efectivamente foi retirada dali depois da descoberta do arqueólogo britânico.

Tutankhamon chegou ao trono com apenas nove anos, mas ficou por lá pouco tempo, tendo morrido com 19 anos, vítima de malária, segundo as últimas investigações. Este túmulo não é definitivamente o maior nem o mais impressionante dos que vimos por ali — noutros, como o de Ramsés IV, os desenhos e as cores parecem ter sido retocados, tais são a nitidez e a riqueza. Mas a estranha capacidade que todo este espaço árido, com 63 túmulos descobertos e arqueólogos sempre presentes em busca de mais pedaços de história, tem de transportar quem por lá passa para uma espécie de viagem a um tempo que nunca se viveu já valeria a visita.

Por detrás da montanha onde se localiza o Vale dos Reis está o Templo da Rainha Hatshepsut (1473 – 1458 a.C.). Desenhado nas escarpas da montanha de calcário e com uma gigante planície deserta à frente, este é um dos mais espantosos locais do Egipto, construído por ordem da rainha faraó (o título é raro) Hatshepsut para ser o seu templo funerário.

Com a manhã a terminar, seguimos rapidamente para ver de perto os Colossos de Memnon, duas gigantescas e impressionantes estátuas do faraó Amenhotep III que, apesar de serem a nossa última paragem em Luxor, são o primeiro vislumbre de quem chega ao lado oeste da cidade, graças aos 18 metros de altura dos monumentos. Estas figuras são apenas uma pequena parte do que restou daquele que se acredita ter sido o maior templo do Egipto, o templo de Amenhotep III, que terá tido uma área maior do que o templo de Karnak mas que desapareceu devido a inundações do Nilo.

A dica número um para quem prepara uma visita a Luxor é uma espécie de prenúncio para aquilo que é esta cidade, já chamada de Thebas, capital do Antigo Egipto durante o Império Novo (1550 a 1069 a.C): não tente ver tudo num dia, não vai conseguir. Se o programa tiver menos de dois dias nesta cidade de 500 mil habitantes, o que nos parece o mínimo para ficar com uma ideia geral, faça opções (a zona este à oeste, ou vice-versa, por exemplo). Mas se puder — e se aprecia turismo cultural e histórico — guarde três dias para este lugar: acreditamos que não se vai arrepender.

Nas atracções turísticas de Luxor, tal como nas de todos os lugares por onde íamos passar, não há filas para comprar bilhetes nem amontoados de turistas — e se estava a perguntar-se por que razão deveria marcar uma viagem para o maior país do mundo árabe nesta altura este é um dos argumentos mais fortes (os preços significativamente mais baixos são outro).

O Egipto pós-Primavera Árabe e pós-Hosni Mubarak, o presidente que governou de forma autocrática por quase três décadas e que foi deposto na revolução de 2011, é ainda um país bamboleante, onde os escassos mas existentes atentados maioritariamente em regiões não turísticas induzem ainda um sentimento de insegurança a muitos turistas. Mas este é também um país em braço-de-ferro com essa imagem, a investir fortemente em recuperar o brio (e os turistas) de outros tempos.

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