Notámos isso no primeiro momento em que pisámos solo egípcio e fomo-lo percebendo mais claramente ao longo dos dias que por lá permanecemos: durante toda a viagem esteve presente um representante do Turismo do Egipto, houve polícia do turismo (muita, às vezes demasiada) a fazer a segurança do grupo de jornalistas com quem a Fugas viajou e um tratamento soberano, que pontualmente incluiu até presentes de comerciantes. “Eles são jornalistas, é importante passar uma boa imagem do nosso país”, segredava Mostafa Abdo Ahmad aos comerciantes. E eles pegavam num colar ou num típico escaravelho da sorte e ofereciam sorridentes.
Para Mostafa, o homem do Governo, mostrar o país aos turistas é tarefa para se levar muito a sério e o tratamento de rei que nos é dado, garante, não podia ser mais genuíno: “Os egípcios são assim, gostamos de receber bem.” Efectivamente, ainda que as diferenças culturais sejam notórias, o Sul do Egipto é um local aprazível, com um dress code que não é rígido (ainda que, para as mulheres, seja mais pacífico não usar roupas demasiado decotadas) e facilidade de comunicação garantida (quase todos arranham inglês e alguns um pouco de espanhol e francês).
Menos agradável é o assédio, que num país a precisar desesperadamente de turistas se torna algumas vezes infernal. A segurança leva sinal verde para quem viaja em grupos organizados, mas não é 100% garantida para quem viaja sozinho — esta, claro, é uma percepção passível de equívocos porque, como se disse, o Turismo do Egipto fez protecção policial em todos os nossos passos e não havia como sentir insegurança.
A bordo do Sonesta Star Goddess há uma saudável paz que se entranha nos viajantes, num cenário onde só o sol a cair lembra que o tempo passa. A viagem faz-se tranquila e as tardes no pátio do último piso do barco dificilmente podiam ser mais perfeitas: piscina à frente para suportar o calor, vistas assombrosas por todos os lados e pequenas embarcações que se emaranham ao navio e viajam quilómetros à boleia a tentar vender de tudo a quem vai a bordo (toalhas de mesa, pacheminas, vestidos típicos), regateando preços durante largos minutos. Ainda que não compre (se quiser fazê-lo, não se esqueça da regra fundamental em todo o comércio egípcio: regateie, o preço baixa sempre), a experiência de comunicação a 11 metros de distância é uma diversão imperdível.
A noite cai cedo e brinda os turistas com um pôr do sol avermelhado acompanhado por um chá servido diariamente e pontualmente às cinco da tarde. Mostafa, pai de três filhos, casado com “apenas uma” mulher (a religião permite que sejam quatro), põe os olhos nas margens do rio: “Sabes qual é o meu sonho? É ter uma casa aqui, junto ao Nilo.”
Diversão egípcia
O dia dois da viagem começa em Edfu, para onde havíamos navegado durante a noite, cidade a meio caminho entre Luxor e Assuão, nosso destino final. Uma charrete é uma boa opção para chegar ao mediático templo de Edfu (passagem obrigatória para quem faz este percurso pelo Nilo), aproveitando assim para sentir e cheirar esta cidade construída num vale próximo do Nilo, longe o suficiente para escapar às inundações mas perto o suficiente para não estar mergulhada no deserto.