Fugas - Viagens

  • Cozinha da Terra
    Cozinha da Terra DR
  • Travanca
    Travanca DR
  • Tongobriga
    Tongobriga Egídio Santos
  • Ecopista do Tâmega
    Ecopista do Tâmega DR

Continuação: página 2 de 6

A Rota do Românico leva-nos por rios e vales de terras medievais

A maior intervenção aconteceu no século XX, quando a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais decidiu restituir a pureza românica aos monumentos românicos que, claro, não haviam ficado imunes ao passar dos séculos e das modas arquitectónica. Na verdade, diz José Augusto, o que sobrou dessa reconstrução foi o portal principal da igreja, sempre a ocidente nos templos românicos, que foi paradigma para outros da região: saliente na fachada, aumenta a profundidade e monumentalidade.

Com as várias arquivoltas do portal e a grande rosácea a encimá-la, esta fachada é tudo o que esperamos do românico. Portas abertas, então, para entrar para as três naves que terminam em três capelas desta igreja. Quem aqui vem à missa tem orgulho da sua igreja e olho para forasteiros – há miradas indiscretas e curiosidade que redundam num “há muita gente que vem visitar-nos”. Não surpreende: este mosteiro do século X é a casa-mãe do românico do Sousa e Tâmega, exemplo do “românico nacionalizado”, que começa em Coimbra e ganha especificidades regionais.

Viver entre mosteiros e castelos

Apesar de o Mosteiro de Paço de Sousa ser um dos principais da rota, é o último monumento que visitamos no nosso percurso de dois dias. Temos sorte com o tempo no que foi o Outubro do nosso contentamento — o sol brilha intenso por estas terras de tradições arreigadas e rosto um tanto ou quanto desfigurado por uma certa ideia de modernidade reflectida nas fachadas anódinas das casas.

Estamos no que alguns chamam o “triângulo das Bermudas”, uma vez que a região se situa entre três locais declarados Património Mundial pela Unesco (Porto, Guimarães e Vale do Douro) e nem sempre é conhecida pelos melhores motivos (o acidente de Entre-os-Rios ainda lança sombra). Mas a mudança da imagem do Tâmega e Sousa está em curso e já se sente que este é um espaço de regressos, de paixões e de futuro — mais uma vez, voltamos aos objectivos da RR onde se encontram a qualificação dos recursos humanos da região e a empregabilidade qualificada.

No Mosteiro de São Pedro de Ferreira encontramos um grupo de jovens estagiários, de escolas da região, a acompanhar José Augusto na visita que nos faz. Sabem a “monografia de cor” e que “este monumento está no top 3 da rota”, mas ainda estão a preparar-se para o contacto directo com os visitantes. Na visita ao monumento estão tão atentos quanto nós. E se se chama mosteiro, na verdade o que resta aqui é a igreja, a única sobrevivente da extinção das ordens religiosas em Portugal no século XIX, e esta mesmo de longe chama a atenção: se nos pareceu singular (e de uma harmonia pitoresca) é porque o é mesmo.

É a única igreja românica portuguesa com galilé, que é uma antecâmara na entrada; neste caso, já sem cobertura, vemos os muros, com um campanário de dois vãos e remate triangular, a encerrarem o que parece um pátio. No interior, tecto de madeira, encontramos uma cabeceira semicircular (influência galega) e abobada, em dois tramos, uma idiossincrasia do românico do Alto Minho; nas traseiras, dizem, nasce o rio Ferreira, aqui ainda um fio de água a sair de uma bica.

--%>