No castelo de Arnóia, o único da rota, é Elisabete Silva, que estuda turismo à noite, quem nos recebe no centro interpretativo que é também mais um centro de informação da RR. Está instalado na antiga escola e como ela própria andou aqui ficamos logo a saber onde era a porta e o quadro. Pelas ruas da antiga Vila de Basto, não nos cruzamos com ninguém quando nos dirigimos ao castelo, a presença tutelar, lá no cimo de monte íngreme, há quase dez séculos.
Por causa dele formou-se a vila que foi sede concelhia até ao século XVIII, quando foi transferida para Britelo, hoje Celorico de Basto; por isso, quando caminhamos pela Rua Direita, encontramos a antiga casa da justiça e a cadeira, o pelourinho e a botica (uma pedra esburacada indica onde estaria a sineta para atendimento nocturno, aponta Elisabete). Caminhamos entre o passado abandonado que estes edifícios representam, e o presente de casas novas que espreitam atrás, numa duplicidade desconcertante.
A ascensão até ao castelo é feita por um trilho entre rochedos e arbustos que por vezes perde o traço. Não é um percurso fácil mas lá em cima, subindo às muralhas e logo à torre, percebemos que a atalaia, dimensões modestas, não perdeu o seu alcance e é a vista que se perde por entre vales verdejantes e montes que se multiplicam como num jogo de espelhos.
Rota da animação
Se os monumentos são as estrelas aglutinadoras desta RR, na verdade esta “é um pretexto para colocar este território no mapa”, explica Susana Alves, do departamento de comunicação. E à boleia da história não faltam ideias. Pela região comenta-se a ideia de colocar uma linha de zip line no castelo de Arnóia, embora este seja provavelmente um projecto condenado ao fracasso porque implicaria interferir com a estrutura de um monumento nacional.
Todavia, numa região rendilhada de rios, serras e vales acolhedores a natureza é inescapável e com ela podem vir emoções fortes — o rio Paiva é palco reconhecido de rafting e canyoning, mas a canoagem e o hidrospeed são também opções; as serras podem ser caminhos de todo-o-terreno e aí o Marão é uma vertigem.
Mais tranquilos são os percursos pedestres que atravessam a zona, proporcionando um outro modo de descobrir o património pelos caminhos menos percorridos — de gravuras rupestres a sepulturas medievais, de menires à miríade de igrejas e ermidas, dos mosteiros a calçadas e casas romanas, de moinhos a aldeias tradicionais — e deixar a natureza tranquila tomar conta do mundo visto de incontáveis miradouros ou na margem dos rios (e se de repente nos depararmos com uma ilha dos Amores não é uma miragem, é a confluência dos rios Paiva e Douro).
Nós seguimos o rio Tâmega, pedalando por onde antes deslizavam os comboios da linha ferroviária que tinha o nome do rio e agora é uma ecopista de 40 quilómetros, ligando Amarante, Celorico de Basto e Cabeceiras de Basto. Entre Amarante e Gatão, junto ao rio, sob galerias de árvores, ao lado de campos cultivados são cinco quilómetros que condensam as paisagens destas terras e que terminam na antiga estação ferroviária, restaurada mas fechada.