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A Rota do Românico leva-nos por rios e vales de terras medievais

Prosseguimos fazendo desvios do românico, ainda que não da história. Sim, porque Vilar do Torno e Alentém a poucos quilómetros de Lousada, guarda um pouco da história da animação e com ela do pré-cinema. Foi aqui, no solar cor-de-rosa do final de 1800 onde viveu até aos oito anos e ao qual voltou há quatro anos, que Abi Feijó, produtor e realizador de animação, decidiu expor o seu espólio na Casa-Museu de Vilar – A Imagem em Movimento: o seu e o do casal Marcia Page e Normand Roger, entre ambos, oito óscares no currículo.

E é assim que em improvável cenário rural, entramos pelo mundo da animação em duas salas da casa principal, preservadas na traça, reservadas: a primeira ao universo de Abi Feijó e Regina Pessoa, que inclui projecção de passagens de filmes, painéis (gravuras sobre placas de gesso) da exposição sobre “História Trágica com Final Feliz” e a única gravura sobrevivente de “Clandestino”, feito em areia; a segunda à animação mundial, constituída, sobretudo, por desenhos originais, alguns com dedicatórias, dos mais importantes autores da animação internacional.

A terceira sala, que é também a primeira para os visitantes, é como uma sala de magia, porque aqui tudo nos remete para a ilusão do movimento que fez a pré-história do cinema (e que vai tão longe quanto os 42 mil anos, assinala Abi Feijó, aludindo a representações de movimento encontradas numa gruta: “o cinema antes da escrita”, portanto): das lanternas mágicas que projectam imagens na parede aos simples flip books, passando por uma sucessão de aparelhos de nomes quase impronunciáveis para um leigo como fenaquitiscópios, panópticos, praxinoscópios, taumatrópios ou zootrópios, os aparelhos que fascinaram Coppola ao ponto de ele dar o nome de Zoetrope à sua produtora.

Não precisamos de avançar muito para regressarmos ao românico. Nesta mesma freguesia de Lousada ergue-se, imponente, a Torre de Vilar, uma residência senhorial fortificada (domus fortis), que terá sido construída no final do século XIII pelo mordomo-mor de D. Afonso III. É uma torre-casa, com mais inclinação para casa do que propriamente fortificação, mais símbolo de poder do que função militar — e se aqui vemos uma casa-torre românica original, em Lousada constroem-se duas que serão a casa-mãe da RR, que funciona na vila.

Um interlúdio à mesa

Não é um monumento, mas é, com certeza, património cultural destas terras, o pão-de-ló de Margaride que tem o seu berço em Felgueiras. O “original” (marca registada) é produzido na Casa do Pão-de-ló de Margaride, bem no centro da cidade. Não vamos dizer o segredo, até porque não o sabemos; o que sabemos é que até reis se deliciaram com este pão-de-ló que é negócio de família — foi a fornecedora da casa real e as suas arma continuam a fazer parte da assinatura da casa fundada em 1730, o que faz dela uma das instituições mais veneráveis da doçaria nacional. Veneráveis e opulentas são também as instalações, que nos transportam para a viragem do século XIX para o XX.

Da decoração de tapeçarias, faianças, quadros, armas, à fábrica que mantém os mesmos fornos embora agora aquecidos a gasóleo em vez da lenha original temos ideia de estarmos num museu — de onde podemos sair com pão-de-ló e cavacas, o outro produto da casa (ou então prová-los aqui).

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