“Por mim, dedicava-se ao voluntariado, mas não posso pensar só em mim”, comentou ela. A família reclama a sua presença. O “volunturismo” parecia-lhe uma forma ajustada de conciliar aquela vontade de ajudar alguém em África com o imperativo de ter um emprego em Portugal.
Tinha férias marcadas. Deixou-se ir, como as outras quatro, para o Ceará, todo inserido na sub-região do Sertão. Duas não viajaram, mas quiseram que o donativo já feito, em vez de congelado, fosse transferido da Guiné-Bissau para o Brasil. Estava viabilizada uma operação com tão pouca gente.
Patrícia esperava fazer mais do que passar duas manhãs a plantar beringelas e pimentões na horta comunitária do sítio de Genipapeiro e outras duas a pintar paredes interiores na unidade de saúde comunitária Hospital Madre Rosa Gattorno, no centro de Milagres, mas não deu o tempo por perdido. “No voluntariado, o mais importante para mim é o contacto com as pessoas”, salientou ela. “Ganho uma energia que me dá para suportar a nossa sociedade uns tempos.”
Soraia ficou tão surpreendida pelo pouco que trabalhou, como pelo tanto que se divertiu, sobretudo na noite em que houve churrasco, vatapá, caipirinha e pagode na Varjota e apareceram as pessoas que mais tempo passaram com o grupo. “Marcámos diferença, não pelo trabalho em si, mas porque fizemos com que várias pessoas saíssem da rotina delas e se sentissem felizes”, entendeu.
Ninguém lhes rouba a sensação de que chegaram “às pessoas reais”. A começar pelo velho Miguel Figueiredo, dono de uma vaca tão magra, tão magra que só com a ajuda de um pau e a força de dois homens ela se levantava de cada vez que era preciso dar de mamar à bezerra. Ele é que explicou, por exemplo, que, quando há uma seca, o gado no Sertão às vezes só tem palma forrageira, uma espécie de cacto sem espinhos, para comer. E tudo piora quando há praga de piolhos-dos-vegetais. Os besouros, sim as criaturas que nos enchiam a varanda, são uma arma. Lurdes Ribas, a “aventureira” economista, não quis sair da Varjota sem se despedir dele.
Nada tocou Zélia como um percurso a pé pelo “morro” de Milagres: “A sujidade, as características das casas, a postura das pessoas são coisas que os meus olhos é que viram.” No fim, já em Fortaleza, onde a aventura termina com um passeio de buggy nas dunas de Cumbuco, Eda Garcês perguntava-se qual seria o efeito de tudo aquilo. Tudo aquilo era um instante que se prolongaria nas suas vidas, como dizia Patrícia, mas como? “Tenho tido uma vida muito privilegiada. Não sei como vou reagir quando chegar a casa. Não sei se vou ser mais comedida…”
A Fugas viajou com o apoio da TAP Programa “Aventura Solidária”
Fundação AMI - Assistência Médica Internacional
Rua José do Patrocínio, 49
1959-003 Lisboa
Tel. 218 362 100
E-mail: fundacao.ami@ami.org.pt
Internet: www.ami.org.pt
Guiné-Bissau
20 a 28 Março
300€ (donativo) + 1.650€ (viagens, alojamento, pensão completa, seguros…) = 1.950 €
Senegal
24 de Abril a 1 de Maio
300€ (donativo) + 1.440€ (viagens, alojamento, pensão completa, seguros…) = 1.740 €