Fugas - Viagens

  • Lucas Jackson/Reuters
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Há vistas a estrear em Nova Iorque

Por Isabel Lucas

Do topo da Torre da Liberdade, apertamos o zoom e descemos a uma cidade que teima em escapar a quem a visita.

Há uma imensa parede branca que parece mármore. Estica-se o dedo e ele atravessa-a. Ou atravessaria, não fosse uma barreira transparente. Acontece então uma espécie de vertigem. Ilusão? Cento e dois andares acima do chão sente-se o vazio. Da cidade, chega apenas o som, um zumbido indefinido, oco, quase nulo. Olha-se os pés. Estão assentes. À frente, depois do vidro, a parede branca continua tão densa como antes. Cento e dois andares acima do chão, há uma neblina molhada, uma nuvem que tapa toda a visibilidade. Nova Iorque a partir dali é pura imaginação. Dois dias antes, sem chuva, sem nuvens, ela desenhava-se aos pés de quem subia pela primeira vez ao deck da Torre da Liberdade, o edifício que suplantou o Empire State Building e a Willis Tower, em Chicago. Com 541 metros de altura, tornou-se simbolicamente o mais alto do hemisfério ocidental, construído junto ao local onde antes de 11 de Setembro de 2001 existiam as Torres Gémeas.  

Há um cenário meio irreal. A sul, os barcos entram e saem da baía de Manhattan guiados pela estátua da Liberdade, em Liberty Island. É fácil acompanhá-los pelo Hudson, seguindo na outra margem o skyline de Jersey City, depois o de Newport, o de Hoboken até o rio se confundir com a construção cerrada da ilha de Manhattan. Castanhos e cinzentos de edifícios que se aglomeram numa imensa massa numa outra fronteira, agora de betão, onde se destacam as gruas do bairro de Hells Kitchen, em reconstrução, o Empire State, a nova torre de habitação na rua 57, o Chrysler Building, o verde dos parques de Washington Square, Union Square, Madison Square Garden. Antes, o casario baixo e de quadrícula menos definida do Village. Os olhos continuam a percorrer o ângulo. Ao longe, começa a definir-se o East River, as pontes de Queensborough, Manhattan, Brooklyn. Outra vez a baía de Manhattan a sul, Staten Island e a estátua da Liberdade.

No topo das Torres Gémeas o panorama era parecido, mas perdeu-se e há 14 anos que a cidade não era vista de cima a partir de Downtown. Tudo está feito para gerar emoção. A subida de elevador desde o piso zero ao 102 é feita em menos de um minuto e nesse tempo é projectado um vídeo que homenageia quem trabalhou na construção do World Trade Center ao mesmo tempo em que é sintetizada a história de Nova Iorque. Uma vertigem.

O tempo de cada visita é controlado e a contemplação limitada. Cada visita custa 32 dólares, cerca de 30 euros. Há três pisos para explorar — 100.º, 101.º e 102.º — e uma fila que é preciso fazer escoar, cá em baixo, entre a Fulton e a West Street, em plena baixa. Com o mapa de papel na mão, traçam-se percursos mentais perante e a partir daquela outra geometria real, cada percurso tão pessoal quanto a emoção que estar ali pode provocar, e tão alheia quanto possível às selfies, à corrida pela melhor imagem de sempre no topo do mundo. Há quem se retraia e guarde a máquina. “Não me apetece fotografar. Há qualquer coisa que me intimida e não há nada que possa captar isto”, diz Jake, um rapaz da Flórida que não planeava ir ali. “Estava a passar, vi a fila, perguntei o que era e esperei pela minha vez.”

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