O regresso, a pé, até à pequena aldeia que dá pelo mesmo nome, proporciona-me cheiros outonais e o encontro com agricultores – o país é essencialmente agrícola – que me saúdam à minha passagem. Com mais duas boleias, chego a Fier mas logo avanço para Apollonia, caminhando até cruzar uma antiga linha férrea agora ocupada por vendedores de galinhas, de patos e de perus; um velho Mercedes detém-se e deixa-me à entrada das ruínas da antiga cidade fundada por gregos de Corinto e Corfu em 588 a.C. (a toponímia deriva do Deus Apollo).
Situada entre colinas ondulantes e um vasto olival com soberbas panorâmicas sobre a planície que se estende por quilómetros, Apollonia rapidamente se tornou uma cidade-estado importante, cunhando a sua própria moeda e tirando partido do comércio de escravos e, a partir de 229 a.C., já sob o domínio dos romanos, um grande centro cultural com uma famosa escola de filosofia. Júlio César concedeu-lhe o título de cidade-livre em sinal de gratidão pelo apoio que a população lhe demonstrou na luta contra Pompeu, o grande, durante a guerra civil travada no século I a. C., e enviou o sobrinho, Octavius, mais tarde o Imperador Augustus, para completar os estudos em Apollonia.
Escutando os gritos e os risos das crianças, em visita de estudo, vou errando pelas ruínas (um total de quatro quilómetros no interior das muralhas) e admirando a elegância do pequeno teatro (original) ou os pilares da fachada restaurada do que foi, no século II d. C., o centro administrativo de Apollonia. Se a Casa dos Mosaicos, datando do século III a.C., se encontra encerrada ao público e os mosaicos cobertos com areia como forma de protecção, não dou o meu tempo por perdido quando vagueio, sob um sol glorioso, pelo mosteiro bizantino e pela igreja de Santa Maria, com as suas gárgulas nos pilares exteriores. Mas um pouco por todo o lado, no jardim em volta da igreja ou nos claustros, sente-se um prazer renovado ao fitar uma ampla e interessante colecção de estátuas, bem como algumas das mais recentes descobertas (uma grande parte do complexo continua por escavar), como a necrópole fora das paredes do castelo, com as suas pedras tumulares que remontam à Idade do Bronze e do Ferro.
O azul-turquesa de Vlorë
Outra vez a pé, vou deixando Apollonia para trás e passo por pastores, guardadores de patos e de perus. Um deles, à distância, pergunta-me de onde venho e grita
- Viva Portugal!
Aqui e acolá, entre a densa vegetação, desponta um ou outro bunker, herança de um tempo em que a Albânia estava fechada ao mundo.
Chego a Vlorë, em pouco tempo, com um simpático escultor.
A primeira sensação é positiva, um sentimento talvez influenciado pelas palavras de Jonida Qirko.
- A primeira vez que visitei Vlorë tinha 13 anos – agora tenho 18 - e, desde essa altura, venho com regularidade. Vlorë contempla tudo o que me atrai quando viajo: o mar, a natureza, a história e a arqueologia.
Jonida Qirko trabalha numa agência de modelos, uma actividade que conjuga com os seus estudos.
- Nunca mais esqueci a primeira vez que estive em Vlorë: que lugar maravilhoso, tão romântico, com gastronomia para todos os gostos e todos os orçamentos. E a melodia das ondas e as águas cristalinas. Mas Vlorë é muito mais, é a história, as suas ruas pitorescas, uma cidade com tudo o que um visitante pode desejar.