Apartamentos e hotéis preenchem a moldura da urbe em forma de ferradura e outrora conhecida como Ayii Saranda (um antigo mosteiro, hoje em ruínas, dedicado a 40 santos e alcandorado numa colina sobranceira à cidade) e turistas gregos aproveitam a proximidade de Corfu (45 minutos de ferry) para a visitar e banharem-se nas suas águas. Mas Sarandë, também chamada Porto Edda na década de 1940 – o nome da filha de Mussolini -, permanece como um lugar agradável, com praias de águas transparentes, quase 300 dias de sol por ano, um sedutor passeio marítimo e alguns mosaicos (num estranho complexo na Rruga Flamurit) e uma sinagoga do século V.
Ksamil e o Olho Azul
Antes que o dia se extinga, rumo à idílica praia de Ksamil e por ali fico, fitando um pescador solitário e observando as vagas que se vão atropelando e a harmonia da paisagem decorada com três pequenas ilhas. Durante o regime comunista, a pequena aldeia (cerca de três mil habitantes) era mais conhecida pela produção de azeite e pela fama dos limões e das tangerinas do que pela sua praia limpa. Gradualmente, face à procura, tanto de albaneses como de estrangeiros, os edifícios começaram a ser levantados sem obedecerem um plano urbanístico – e em 2010 o governo procedeu à demolição de duas centenas que haviam sido construídos de forma ilegal numa área incluída no Parque Nacional de Butrint, que se estende por de 29 km2.
A partir de Ksamil, utilizo pela primeira vez um transporte público – e o mesmo farei mais tarde, para regressar a Sarandë, não sem antes pousar os olhos demoradamente nas ruínas e desfrutar da quietude de Butrint. Situado na desembocadura do lago homónimo, o assentamento foi habitado desde tempos pré-históricos, mais tarde uma colónia grega, depois uma cidade romana e sede de bispado. Butrint conheceu um período de prosperidade sob o domínio bizantino (transformando-se num centro eclesiástico), foi ocupada pelos venezianos e abandonada no final da Idade Média – até ser redescoberta, em 1927, por arqueólogos italianos.
Na companhia de um reduzido número de turistas, vou errando pelo teatro grego, que acolhia 2500 pessoas, pelos banhos públicos e, já no interior da floresta, ao longo de um muro com inscrições gregas, pelo baptistério (os coloridos mosaicos representando animais e pássaros estão cobertos com areia) e pelos admiráveis arcos da basílica. Subo à antiga acrópole, actualmente um castelo que abriga um museu e, daqui, grato pela paisagem que é dada a contemplar, fico com uma ideia de como era a cidade no passado, ao mesmo tempo que vou olhando as águas do canal Vivari que ligam o Lago Butrint ao estreito de Corfu e que o sol se encarrega de dourar a esta hora.
Syri i Kaltër, 25 quilómetros para o interior através de uma pequena cadeia montanhosa, é o meu último destino e nada fica a dever a todos os outros: uma piscina natural conhecida como Olho Azul e em tempos apenas reservada à elite comunista. O azul-escuro domina a pupila e tons mais claros enfeitam a iris, num perfeito contraste com a vegetação que a rodeia.