Jonida Qirko sabe do que fala – Vlorë, rodeada por imponentes montanhas com milhares de oliveiras e ancorada na baía homónima, onde as águas do Adriático se enamoram com as do Jónico, foi fundada por gregos como uma das suas colónias na costa ilíria e habitada, de forma contínua, desde o século VI a. C. Aquele que é o centro económico e cultural mais importante do sul do país, onde a tradição se cruza com a modernidade, ocupa um lugar muito especial no coração dos albaneses: foi em Vlorë que, em 1912, após anos de constantes revoltas contra o domínio otomano, se proclamou a independência e se instituiu o governo provisório liderado por Ismail Qemali.
Nos dias de hoje, Vlorë, também um importante centro de recrutamento da Sigurimi, a polícia secreta, nos tempos de Enver Hoxha, é um lugar tranquilo, com fascinantes museus que ocupam o viandante durante algumas horas, como o Museu de História, com uma amostra de artefactos desde o século IV a. C. até à II Guerra Mundial, ou o Museu Etnográfico, ambos na Sheshi i Flamurit, ou ainda o Museu Nacional da Independência, próximo do porto e ocupando uma mansão que serviu de quartel-general do primeiro governo albanês.
Sigo ao longo da avenida repleta de palmeiras, de cafés e restaurantes, lanço olhares demorados à quietude das águas de um azul-turquesa, ainda mais para lá, até à Lagoa Narta, e logo me encontro em frente da Mesquita Muradi, uma pequena mas elegante estrutura de pedra branca e vermelha e um modesto minarete, obra cuja autoria é atribuída a um dos mais famosos arquitectos otomanos, Sinan Pacha, nascido na Albânia. Não muito distante, num dos extremos da concorrida artéria Sadik Zotaj, erguendo-se contra a abóbada do mundo, agora de um azul desmaiado, está o Monumento da Independência e, a dois passos da base, o túmulo de Ismail Qemali, com os seus jardins fronteiriços bem cuidados onde jovens casais de namorados materializam as suas paixões ou idosos, sob o peso da nostalgia, provavelmente evocam as suas.
Para a direita, o mar é um tapete prateado e um ferry de grande dimensão cobre parte de uma montanha agora com contornos pouco definidos.
- Tu não vais conseguir.
Lulu, o cão de Diana Bella, salta para as pernas da dona e estende o focinho para lá da janela.
- É tarde, há poucos carros a circular a esta hora e, por norma, as pessoas não param para dar boleia. Eu parei porque também viajei muito pelo mundo.
A oficial da marinha deixa-me, pouco convencida do meu sucesso, poucos quilómetros depois, já na saída de Vlorë, num pequeno parque junto à estrada que serpenteia ao lado de um mar cada vez mais azul. A espera é curta, subo para uma carrinha que transporta peixe e que me leva até Orikum; a partir daqui, o asfalto olha na direcção das montanhas majestosas, algumas com casas no sopé banhadas pelos raios oblíquos do sol. Quase não passam carros, vou andando, observando o fumo que se ergue das chaminés, os extensos vales, escutando ora o silêncio, ora os latidos pouco amigáveis de um ou outro cão. Finalmente, uma viatura detém-se, um simpático idoso que não fala inglês e me conduz até uma aldeia, de onde parto, uns minutos depois, numa carrinha de caixa aberta, atrás, respirando a brisa, apesar da insistência dos cinco homens para que me junte a eles, na cabina – e logo me convidam para tomar café.