Em Abril de 1939, Benito Mussolini invadiu a Albânia e Ahmet Zog I, sentindo a sua vida ameaçada, mais ainda que durante as 55 tentativas de assassinato de que foi alvo, partiu para o exílio, fazendo-se acompanhar da família mas também de uma considerável quantidade de ouro retirado dos bancos nacionais – mas muito dele já na posse da família real porque a invasão não era de todo esperada.
Contemplo pela última vez o palácio que, como o anfiteatro, carece de verbas para ser renovado e avisto a cidade do mesmo local onde, em tempos distintos, depois da II Guerra Mundial, figuras como Nikita Khrushchev e Jimmy Carter, convidados do regime, também a perscrutaram.
Mais para diante, banhado pelos raios solares, o porto, um dos mais antigos do Mediterrâneo, freme de vida. No século VII a.C., Durrës, capital da Albânia entre 1914 e 1920, tornou-se num dos principais eixos comerciais da costa adriática e, já no século passado, no símbolo do êxodomaciço dos albaneses durante a ditadura de Enver Hoxha (1945-1985).
Durrës foi, no século II a.C., ponto de partida da Via Ignátia, a estrada com mais de mil quilómetros e de grande importância militar (por ela marcharam os exércitos de Júlio César e Pompeu mas também o apóstolo Paulo na sua segunda viagem missionária) que rasgava as antigas províncias romanas de Ilíria, Macedónia e Trácia até se deter em Bizâncio, a actual Istambul. Reza a lenda que, desde o ano 1000, a cidade que Cícero definiu como “admirável” e o poeta Catullus como “Taberna do Adriático” terá mudado de mãos 33 vezes – não admira, portanto, que o Museu Arqueológico, virado para o mar, apresente tamanha riqueza de artefactos dos períodos grego, helenístico e romano. Sendo Durrës, em tempos imemoriais, um centro de adoração de Vénus, não estranho ver, no interior do museu, uma ampla colecção de bustos da deusa do amor e, mal chego ao exterior, calcorreio a Torra e, seguindo ao longo da Anastas Durrsaku, vou observando fragmentos das muralhas bizantinas da cidade (século VI), construídas após a invasão visigoda e complementadas, já no século XIV, por torres redondas venezianas. Deixo para o final as ruínas dos banhos romanos e as poucas colunas que restam do que foi em tempos uma basílica e, antes de partir – porque Durrës quase sempre foi um ponto de partida – rumo ao sul, caminho ao longo da marginal, com os seus restaurantes, os seus bares, os seus múltiplos hotéis que se abraçam e quase não deixam respirar as praias, mais as suas gentes que, aqui, sentindo o cheiro do mar e o murmúrio das vagas suaves, me parecem menos descontraídas e menos amigáveis do que na cidade que a todo o instante oferece um vestígio do passado.
A grandeza de Apollonia
É um engenheiro de uma operadora telefónica, Ibrahim Cela, falando fluentemente inglês, quem faz um desvio para me deixar no solitário e silencioso mosteiro de Ardenice. Poupado à destruição no período do totalitarismo, mas umas vezes usado como restaurante e em outras como hotel, o antigo mosteiro ortodoxo é hoje um lugar de culto e residência habitual de quatro monges, bem como um exemplo de conservação que não me fora dado a ver em Durrës.