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Alcalá: a cidade dos dois mártires e dos três imortais

Hoje, as imagens de empregados solícitos no metro de Tóquio, em Shinjuku, por exemplo, na hora de ponta, entram no nosso quotidiano, pressionando pessoas esgotadas ao fim de um dia como se a carruagem fosse a lata e os utentes as conservas; mas já em tempos distantes, lembra a história da cidade, essa figura, o apertador, tratava de arranjar espaço para 600 espectadores no teatro onde hoje não cabem mais do que 170. Eles sabem, esses idosos, de histórias que foram escutando ao longo de uma vida que se vai definhando, que na parte de cima do teatro havia aposentos que, camuflados por uma espécie de persiana, escondiam viúvas carpindo as suas mágoas ou prazeres da vida que a vida quotidiana não podia conhecer.

Quando se olha a história do teatro, para o que se chamava o balcão das aparências, e para o que é hoje a Calle Mayor, a rua mais comprida de Espanha suportada por arcadas, encontram-se, sem grandes dificuldades, similitudes; se, nesse tempo, as mulheres ficavam a observar, orgulhosas dos seus trajes e, por vezes, censurando vestimentas e comportamentos das suas vizinhas, nos dias de hoje, elas mantêm agudo esse sentido crítico, reprovando atitudes e emitindo, entre dentes, juízos de valor sobre esses arcos cujas pedras o tempo se encarregou de desgastar.

Caminho ao longo da calle Mayor, perscruto numa parede lisa motivos alusivos à obra de Miguel de Cervantes e, na Plaza Santos Niños, planto o olhar na catedral Magistral de los Santos Niños Justo e Pastor, erguendo-se, majestosa e orgulhosa do seu estatuto obtido já em 1519 – como magistral apenas tem como rival a de Lovaina, na Bélgica –, no lugar onde foram sepultadas as duas crianças mártires que lhe dão nome, ambas assassinadas (degoladas sobre uma pedra) por Diocleciano por se terem recusado a acatar a ordem do imperador para renunciar à fé cristã. 

Definitivamente, Alcalá de Henares é a cidade dos imortais. De Justo e Pastor e, a uma escala mais abrangente, de Miguel de Cervantes, de D. Quixote e de Sancho Pança, contrariando este último.

- Acontece – replicou Sancho – que, como vossa mercê sabe, todos estamos sujeitos à morte (…).

Guia Prático

Como ir

São várias as companhias aéreas a estabelecer a ligação entre Lisboa e Madrid mas a melhor tarifa, tendo como referência o mês de Outubro, é proporcionada pela Easyjet, pouco mais de 50 euros para um bilhete de ida e volta. A Iberia, a TAP e a AirEuropa também viajam entre as duas capitais e cobram cerca de 80, 90 e 100 euros, respectivamente, pelos dois percursos – mas tudo depende da antecedência com que programa a sua viagem. Alcalá de Henares está situada a apenas 14 quilómetros do aeroporto de Barajas (o autocarro 824 deixa-o na Via Complutense) mas se, em vez de avião, utilizar carro próprio, o melhor acesso, desde Madrid, é através da A-2 ou da R2 (esta última com portagem). A cidade também é servida por autocarros interurbanos da empresa Alsa (partem todos, 223, 227, 229 e N202, operando este último apenas à noite, da Avenida de América) e comboios, com ligações às estações de Atocha e Chamartin de 20 em 20 minutos (Línea C-2) e de 10 em 10 minutos (Línea C-7).

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