Quando as praias esvaziam, a cultura renasce. A rentrée cultural tem época marcada — o Outono, pois claro — e oferta eclética. Desde festivais multidisciplinares aos musicais que deixam os espaços abertos e buscam o conforto interior ao mesmo tempo que mantêm a chama de um certo Verão viva; às grandes exposições , a nova temporada fria anuncia-se com cultura para todos.
Em Amesterdão, como já é tradição, o Outono recebe-se a dançar. O Amesterdam Dance Event (ADE) ao longo das suas 20 edições cresceu para ser um dos maiores festivais de música electrónica do mundo, o maior em clubes. Porque os clubes são os palcos do ADE, neste caso 120 dos melhores da capital holandesa – que, sabemos, é pródiga (também) nestes locais – por onde vão passar 2200 artistas, em 450 eventos.
Serão cinco dias, entre 14 e 18 de Outubro, com DJ de todo o mundo – incluindo os pesos pesados da indústria como Tiesto, Carl Cox, Armin van Buuren, David Guetta, Ricardo Villalobos ou Richard Hawtin. E tudo isto entre os grandes mestres que se alçam nos museus, a nova arquitectura que continua a desafiar a água, e, claro, os canais e as bicicletas que emprestam a Amesterdão a sensação de pequena cidade.
Umas semanas depois, mais a norte, a música também invade Reiquejavique, em versão mais ou menos dançável. Tudo depende dos gostos e a capital do país que deu ao mundo Björk e os Sigur Rós sabe como atender a todos. E o Iceland Airwaves (de 4 a 8 de Novembro) é paradigmático disso, com o seu alinhamento de quase 250 bandas que durante cinco dias vão tocar em vários locais da baixa da cidade, em clubes mas também salas de espectáculo, como a Harpa (uma “casa da música” com linhas futurísticas de aço e vidro), o Teatro Nacional e o Museu de Arte, e sítios menos ortodoxos como a igreja Fríkirkjan (que já tem, porém, currículo musical, tendo por lá passado, por exemplo, Sigur Rós ou Daughter) – se incluirmos os “Off Venue”, concertos mais intimistas, muitas vezes dos cabeças-de-cartaz, cafés, livrarias, restaurantes lojas de discos ou de roupas podem ser os palcos imprová- veis.
“Indie” é santo-e-senha do Iceland Airwaves por onde vão passar, por exemplo, Beach House, Hot Chip ou Father John Misty, entre superestrelas, revelações e esperanças da música islandesa e mundial. A não perder: “The Blue Lagoon Hangover Party” leva o festival a uma das grandes atracções turísticas desta Islândia em estado puro, a lagoa geotermal, aquecida por lençóis de lava, que tem propriedades curativas para a pele e, provavelmente, para a ressaca. E se ainda não for o suficiente para recuperar, todo o cenário islandês, de natureza primordial, é ele próprio um “espanta-males”.
A Hungria anda, por estes dias, nas bocas do mundo – e nem sempre pelos melhores motivos – mas o Café Budapeste Festival de Artes Contemporâneas (de 2 a 18 de Outubro) já há muito que colocou a sua capital na rota cultural europeia. Teatro, literatura, dança contemporânea, música (pop, clássica, jazz e contemporânea), cinema, design e novo circo: todos cabem neste festival que se associa a outros eventos como o Mercado de Arte de Budapeste que é a maior feira de arte contemporânea da Europa central e de leste.
Os palcos do festival são um bom pretexto para percorrer a elegante cidade imperial, rasgada pelo Danúbio, e conhecer alguns locais emblemáticos, desde os mais institucionais como o Palácio das Artes ou o Teatro Nacional, aos mais alternativos como o clube A38 Ship ou a galeria Trafó.
Paris e Roma recebem festivais semelhantes, o festival Villa Manuela em Madrid (9 a 11 de Outubro) ocupa o bairro boémio de Malasaña e Copenhaga concentra tudo na Noite da Cultura (9 de Outubro), dispersa em 600 locais da cidade.
Em Londres cabe toda a cultura do mundo (e todo o mundo, na verdade) e este Outono destaca-se a exposição “Mademoiselle Privé”, que abre a porta ao processo criativo da casa Chanel em torno das peças de alta-costura, no seu perfume mais paradigmático, o Chanel nº 5, e da colecção de joalharia Bijoux de Diamants, a única desenhada por Coco Chanel (1932) e relançada pelo actual director artístico Karl Lagerfeld no passado Julho. A mostra estará na Saatchi Gallery entre 13 de Outubro e 1 de Novembro.
E ainda em Londres, é incontornável a abertura da exposição “Goya: os Retratos” (de 7 de Outubro a 10 de Janeiro) que vai apresentar cerca de 70 obras do artista espanhol, entre quadros, desenhos e miniaturas, nunca antes exibidas na capital inglesa, para contar a sua (inédita) história enquanto retratista. Na National Gallery reunir-se-ão trabalhos de colecções públicas e privadas de todo o mundo para abrir uma janela para a vida pública e privada de Goya, um artista que influenciou de forma indelével gerações posteriores.
Um dos artistas que prestou tributo a Goya foi o compatriota Picasso, que é objecto de uma exposição em jeito de tributo no Grand Palais, em Paris. Trabalhos de Picasso serão exibidos juntamente com trabalhos de artistas contemporâneos (como Warhol, Lichtenstein, Basquiat ou Hockney) mostrando de que forma a obra do pintor malaguenho tem interagido com gerações artísticas posteriores.
Desenvolvida em três partes, a mostra “Picasso Mania” (7 de Outubro a 29 de Fevereiro) debruça-se sobre a representação do artista como tema (inclui um auto-retrato de Picasso do período azul), passa pelas revoluções na arte visual protagonizadas por Picasso (como o Cubismo) e termina com a sua faceta mais política. De Picasso a Andy Warhol a distância é apenas a que separa o Grand Palais do Musée d’Art Moderne. O rei da Pop Art terá mais de 200 obras em exibição, entre elas “Shadows”, na sua primeira apresentação na Europa: é uma montagem serigráfica de 130 metros, composta por 102 telas de 17 cores.
Em Londres, Roma e Zagrebe, Outubro é mês de festivais de cinema; e em Praga e Berlim é mês de luzes. Entre 15 e 18 de Outubro e 9 e 18 de Outubro, respectivamente, as duas capitais oferecem os seus monumentos mais icónicos como telas para projecções de vídeo e instalações de luzes assinados por vários artistas. Uma nova forma de olhar as cidades – e de iluminar o Outono.
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