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Bath: um segredo descoberto por uma vara de porcos

Esta última, a sala da bomba, era o aposento onde estava colocado o mecanismo que bombeava a água para os banhos, hoje transformado num luxuoso restaurante da moderna cozinha inglesa onde se pode ouvir o Pump Room Trio (que na verdade são quatro, embora dois deles actuem alternadamente) ou, estranhamente, tomar um chá que, ao contrário do que seria suposto em Inglaterra, é servido apenas até as cinco e nunca depois das cinco.

No átrio, junto às bilheteiras, observo as longas filas que vão para lá da porta principal e se estendem pela rua. Fito a abadia com um prazer renovado e observo, aqui e ali, as estátuas humanas, uma com uma bicicleta, ambos de um branco imaculado, atraindo as atenções dos turistas como os porcos atraíam o olhar de Bladud, o príncipe desencantado.

A abadia de Bath, banhada pelo sol a meio da manhã, encanta-me. Dirijo-me a um dos bancos da praça, parcialmente ocupado por um casal que me sorri, uma expressão que interpreto como sendo a autorização para lhes fazer companhia.

Neste lugar, pouco tempo depois da partida dos romanos, terão existido (não há evidências arqueológicas), no final do século X, um convento e um mosteiro mandados levantar pelos anglo-saxões. E — uma vez mais sem que os documentos históricos possam comprovar a veracidade dos factos — um outro lugar de culto, como parte do mosteiro beneditino, construído mais de dois séculos antes numa cidade onde, em 973 (mas reinando já desde 959), foi coroado Edgar, o primeiro soberano de uma Inglaterra acabada de se unificar. Em 1973, para assinalar os 1000 anos sobre a coroação, Bath recebeu a visita da rainha Isabel II, uma presença que uma pedra, no chão da abadia, comemora e recorda a todos os turistas.

É escocês, o casal que, como eu, planta os olhos na abadia. Mas o olhar deles parece envolto numa certa nostalgia.

Em finais do século X, John of Tours, bispo de Bath, deu início a um programa ambicioso de construção que incluía planos para mais edifícios monásticos, um palácio e uma catedral. Por altura da sua morte, em 1122, já algumas das paredes da catedral normanda haviam sido erguidas mas a parte final dos trabalhos foi da responsabilidade do seu sucessor, Robert of Lewes — uma vez mais sem certezas, tudo indica que foi completada e consagrada no início da década de 60 do século XII.

Aquela que foi a última grande igreja a ser construída em Inglaterra durante o período medieval, a mesma que agora tenho à minha frente, começou a ser levantada no derradeiro ano do século XV e prepara-se para celebrar, em 2016, os seus 400 anos (apenas foi concluída em 1616). Do lado sul da abadia, umas escadas dão acesso ao pequeno Heritage Vaults Museum, que explora a história por vezes turbulenta (em 1539, os monges tiveram de se render à coroa na sequência da Dissolução dos Mosteiros ordenada pelo rei Henrique VIII) da igreja, exibindo, também artefactos arqueológicos e um estranho modelo do século X do monge Aelfric, vestido com o tradicional hábito preto beneditino.

Mas é no exterior, na fachada ocidental, que se concentra a maior parte dos olhares, nas escadas por onde sobem e descem os anjos que, de acordo com a lenda, terão inspirado, depois de um sonho, o bispo Oliver King.

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