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Bath: um segredo descoberto por uma vara de porcos

Por Sousa Ribeiro

Bath é a cidade imortalizada pelos seus banhos, pelas suas termas. Os romanos transmitiram-lhe uma aura de luxo. A realeza não resistiu ao seu glamour.

“Se por acaso um viajante me vier perguntar em Londres por outra cidade inglesa, «além de Londres», parece sempre que o mando ir tomar banho. «Bath», digo-lhe, que em inglês quer dizer banho. Bath é também o nome da cidade mais encantadora de Inglaterra e se não digo Edimburgo, como (Jorge Luís) Borges, é porque a cidade de (Robert Louis) Stevenson sempre esteve na Escócia.”

As palavras não são minhas, pertencem ao cubano Guillermo Cabrera Infante e foram retiradas, com a devida vénia à D. Quixote e ao escritor que é justamente considerado uma das grandes personalidades da literatura em língua espanhola, de O livro das cidades.

- Adoro viver em Bath. É uma cidade maravilhosa, cheia de história e de cultura.

A frase também não é da minha autoria, tem de ser creditada a Faith Toynbee, director de marketing das termas de Bath, no cargo há apenas um ano mas o tempo suficiente para se render aos encantos desta urbe com poucos habitantes (cerca de 90 mil) e muitos turistas (nenhuma outra, à excepção de Veneza, recebe tantos por residente).

- De acordo com os dados de que disponho, o número de visitantes por ano ronda os seis milhões. Nos meses de Verão, Bath é, de facto, muito frequentada pelos turistas. Mas prefiro ver um lado positivo nesta procura: é importante para o negócio e para as atracções turísticas, enfatiza ainda Faith Toynbee.

Esta é realidade que Bath enfrenta todos os anos. Mas a ficção ou a lenda também cabem na história desta cidade que é um verdadeiro ícone da arquitectura inglesa e um símbolo do estilo georgiano.

Antes ainda, talvez Guillermo Cabrera Infante possa dar o seu contributo, em palavras e credibilidade, para o que virá a seguir.

“A fundação da própria cidade é atribuída a um grupo de reis ingleses, cujos nomes ressoam como palíndromos: Bladud e Lud Hudibras e a esse rei que pareceu nunca tomar banho, Lear, que, na realidade, foi curado de uma erupção cutânea (mas não da sua loucura senil) quando se meteu nos pântanos borbulhantes de calor não de espuma.”

Consta que era uma manhã de muito frio, no Inverno, fustigada por um vento cortante como uma lâmina, um céu coberto de um cinzento carregado, sem espaço para mais nuvens. Não existem evidências mas poderia ser o ano 853 a. C., quando Bladud, após contrair lepra durante os seus tempos de estudante em Atenas, decidiu regressar a casa, sabendo que, na sua qualidade de príncipe imperfeito, nunca poderia ser o herdeiro da coroa.

Sem dar qualquer explicação, Bladud abandonou de imediato o palácio real para se tornar um guardador de porcos num lugar do reino até então pouco explorado por viajantes. Pai do infortunado King Lear, imortalizado por William Shakespeare, o príncipe desencantado terá rumado ao vale do rio Avon, numa área hoje conhecida como Keynsham, dez séculos antes de os romanos aqui construírem casas e mais de 1500 anos antes de os saxões chegarem a Bath.

À procura de bolotas, Bladud conduziu a vara de porcos por um território para ele desconhecido, tendo cruzado o rio Avon a norte de Saltford, numa zona onde as águas eram pouco profundas e cuja toponímia actual não deixa grandes dúvidas quanto ao peso da lenda: Swineford, o vau dos porcos.

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