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Bath: um segredo descoberto por uma vara de porcos

Durante a Idade Média, Bath transformou-se num centro eclesiástico e numa cidade focada no comércio da lã — e foi necessário aguardar pelo início do século XVIII para a ver revitalizada e de novo na moda pelos mesmos motivos (os banhos) que a tornaram apelativa no passado. Por esse tempo, em 1692 e, mais tarde, em 1702, chegava a Bath, com todo o seu empreendedorismo e em visita real, a rainha Anne, provavelmente ignorando que acabava de inaugurar a idade de ouro da cidade.

Não resisto a voltar a um capítulo das páginas de O Livro das Cidades: “Quando a rainha Anne passou um mês em Bath trouxe com ela a nobreza como cauda. Entre esta, confundido mas não confuso, veio Beau Nash, protegido por um capitão de terra dentro que muito rapidamente se fez matar num duelo por um tira-me para lá essas fichas (Em inglês: «a chip on his shoulder.») Foi assim que Nash se tornou mestre-de-cerimónias de Bath. De imediato, com botas e mandiles. Mas não mandriles: os ingleses ainda cuspiam no chão e mijavam em qualquer esquina.”

Talvez o cubano nascido em Gibara, com o seu humor que não é compreendido por todos, não se explique bem, na presunção, tão característica de qualquer escritor, de que o leitor tudo assimila. Richard “Beau” Nash era um jogador profissional, extrovertido e elegante, que abateu, nesse duelo, o mestre-de-cerimónias da cidade e, vangloriando-se ainda da sua vitória, logo se autoproclamou rei de Bath antes de se insinuar pelas ruas, de proibir o porte de armas e de sentenciar um código de conduta.

E logo, impaciente, entrou em cena Ralph Allen, um empresário que nada mais conhecia do que o êxito, que havia organizado o serviço dos correios britânico e que sonhava, não se sabe desde quando, em edificar uma cidade que o mundo teria de considerar um portento. Dando asas a essa ambição sem limites, Ralph Allen adquiriu, em 1727, umas pedreiras próximas de Bath, de uma cor que fazia lembrar o mel, com pedras fáceis de manejar e ainda mais fáceis de transportar.

Precisamente no mesmo ano, chegou a Bath o último elemento da tríade que vivia em perfeita harmonia, o arquitecto místico, John Wood, fascinado pelo passado greco-romano e pela obra de Andreas Palladio, outro arquitecto veneziano de finais do Renascimento.

A combinação revelou-se, no mínimo, perfeita e tão sólida como essas pedras que parecem pesar sobre os ombros dos turistas. Ralph Allen proporcionava os materiais, James Wood os projectos e Richard “Beau” Nash assumia a área comercial.

Bath tornava-se numa espécie de magnetismo, um íman que não parava de seduzir a aristocracia inglesa (mais tarde a classe média) e a cidade transformava-se, para cima e para baixo, para um lado e para o outro, umas vezes por obra e graça do Wood pai, outras pela inspiração do filho, num lugar onde cabia um urbanismo sem paralelo, tão compacto e tão unitário, com os seus edifícios exalando uma magnificência que os conhecedores da época logo comparavam a outros de uma Roma clássica ou representativos de uma arquitectura neoclássica.   

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