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    Termas de Saarland CHRISTIAN GAHL

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Saarland: capital barroca e florestas encantadas

Entramos no castelo pela “torre” moderna, da autoria do arquitecto alemão Gottfried Böhm, prémio Pritzker, e conhecido pelas obras em que cria relações entre o passado e o futuro — aqui, teve o território perfeito para a concatenação — para sairmos imediatamente para as traseiras, onde os jardins se formam em socalcos; cá em cima, é uma varanda privilegiada para a cidade. Sobretudo para a que se estende do outro lado do rio, que neste entardecer vemos já pardo, ladeado de árvores e ruas.

 

Red light district, sala de estar

É para o outro lado que nos dirigimos, descendo até à “ponte velha” (alte brucke) há muito transformada em pedonal, apenas. Nas margens do rio, barcos-restaurantes, no skyline, para um lado a alta chaminé (160 metros) da estação termal Römerbrücke, iluminada, distingue-se, do outro a cidade nova, com os seus edifícios espelhados com os símbolos de marcas no topo (distinguimos a Mercedes, por exemplo). A chegada ao outro lado brinda-nos com um parque infantil, aninhado abaixo da ponte sob árvores de cores impossíveis — amarelo integral, nítido, irreal, quando as luzes já se começam a acender. Estamos prestes a entrar na antiga cidade dos artesãos e dos mercadores passando alguns edifícios modernos — incluindo o staatstheatre, o teatro do estado, concluído em 1938, numa altura (outra) convulsa da história da região.

Foi em 1909 que Saarbrücken ganhou a configuração que mantém hoje, com os seus 180 mil habitantes, quando a cidade original se uniu à cidade de St. Johann (esta por onde agora caminhamos) e a Burbach-Malstatt (industrial, graças à minas de carvão e de ferro). Após a I Guerra Mundial, a cidade tornou-se a capital do território do Sarre (1920), já não parte do Império Alemão, devido aos acordos do Tratado de Versalhes — e as suas minas passaram a ser exploradas pela França como parte da compensação pela destruição da guerra. O tratado previa a realização de um plebiscito 15 anos depois para determinar o estatuto do território: uma maioria esmagadora (90% dos eleitores) votaram pela reunificação com a Alemanha, tendo apenas 0,8% votado pela unificação com a França — os restantes eleitores queriam uma espécie de meio termo, reunificação com a Alemanha mas não com os nazis no poder, ou seja, nesse período defendiam a manutenção da administração da Sociedade das Nações. Por isso, em 1935, a região do Saar voltou a fazer parte da Alemanha com o nome de Saarland. O rescaldo do segundo conflito mundial trouxe novos tempos turbulentos para este território. Em 1945 ficou parte da Zona Francesa de Ocupação e em 1947 a França criou o Protectorado do Sarre, politicamente independente mas economicamente unificado com a república (o carvão era fonte de riqueza cobiçada). Um referendo em 1955 recusou um estado independente (com dois terços dos votos) e, em 1957, o Sarre, no que foi chamado de kleine wiedervereinigung, “pequena reunificação”, passou a integrar a República Federal Alemã, tornando-se o estado federado Saarland.

E então estamos no coração actual do que se chama a cidade velha de Saarbrücken, a antiga St. Johann, na apropriadamente chamada Praça do Mercado St. Johaaner. Daqui partem ruas e vielas e pátios escondidos que são centros comerciais invulgares e de um pitoresco muito próprio; daqui vê-se o encontro entre a antiga e a moderna cidade, cujos prédios se erguem bem atrás do casario num dos lados da praça (onde não falta um exemplar Stengel, uma fonte que estará em linha com o tal triângulo). Um encontro que poderia não existir, já que houve planos para demolir este bairro, antes uma espécie de red light district. Planos abortados, sala de estar da cidade encontrada e se antes não víamos ninguém nas ruas, aqui as esplanadas estão cheias, as luzes são feéricas e não faltam sequer luzinhas nas árvores numa espécie de Natal que dura o ano inteiro quando a noite chega. Há um charme discreto nesta zona, onde bares e restaurantes se alinham – com algum eclectismo na oferta: vemos italianos, asiáticos, boulangeries e bistrots (a influência francesa é por de mais evidente, até no nome de alguns restaurantes, como o Place de la Liberté), mais italianos, cantinas mexicanas e alemães, claro, oferta rápida em alguns, como vemos nos tabuleiros sobre as habituais mesas de madeira. Numa rua perto, ficam os restaurantes de renome, alguns com estrelas Michelin, como o Klaus Erfort (3) e o Jens Jakob (1).

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