No dédalo das ruas passamos por zonas de antiquários (alguns fechados com grafitti a assinalarem uma certa decadência), alfarrabistas; num pátio imprevisto, as sapatarias reinam em ambiente de conto de fadas actualizado (há trepadeiras nas paredes, duendes em floreiras, mais luzinhas a cruzarem o espaço). Uma casa numa esquina oferece-nos um peculiar confronto arquitectónico: de um lado, o estilo é barroco, do outro é renascentista — originalmente a casa pertencia a uma família de afamados sapateiros. Uma ruela que irá desembocar na basílica oferece-nos a visão de uma árvore de kiwis tamanho berlinde e algumas videiras que lembram que o cultivo da vinha na região (perto do Moselle) é uma herança que vem de tempos romanos.
Completamos, então, o triângulo barroco, na Basílica St. Johann, católica — e fechada. Há quem veja os horários, nós limitamo-nos a observar a construção escassamente iluminada, que cresce numa torre central e culmina numa cúpula negra, e a olhar para as esplanadas de bares que a rodeiam, desejando sentarmo-nos e sentir a vida da cidade.
Mas, outra vez, o tempo escasseia e Klaus não tem complacências. Só paramos novamente na “nova” câmara municipal, esta estilo neo-gótico do início do século XX, uma imitação (mais modesta) da de Munique (do mesmo arquitecto, aliás, Georg J. von Hauberrisser) e palco muito procurado para casamentos. Estamos na cidade Art Noveau, avenidas, trânsito, comércio, serviços. Havemos de voltar à cidade velha, promete Klaus, para jantar no dia seguinte. E depois de um dia entre spa e caminhada voltamos à cidade velha, mas não a esta parte, florescente de vida. Estamos a 15 minutos da zona da praça de St. Johanner, descobriremos depois, na parte mais antiga da cidade. St. Arnual é o nome da zona, uma espécie de “aldeia urbana”, e aqui sobrevive um pouco da Idade Média — na igreja mais antiga da cidade (românica e logo gótica como agora a vemos), escondida num recanto da praça onde se encontram algumas casas medievais. Numa loja gourmet, provamos vinhos da região, num restaurante ao lado somos presenteados com uma refeição tradicional (o que por aqui significa contundente q.b.). Deixamos Saarbrücken com um travo amargo: a capital de Saarland merece bem mais do que uma visita apressada.
Spa andaluz em aldeia alemã
O edifício ergue-se, enorme, maciço, cor de tijolo e amarelo esbatido, no meio de campos com a aldeia à vista — e França também, indicam-nos. É um ovni na paisagem bucólica, é um ovni no conceito aqui bem no centro da Europa: um “spa de inspiração mourisca e andaluza”, assim se apresentam as Termas de Saarland (Saarland-Therme) — águas termais quentes.
E, na verdade, o interior está recheado de pormenores que remetem para a cultura árabe, desde os ubíquos azulejos aos arcos de volta perfeita. As piscinas, interiores e exteriores, cheias de água termal são um ponto de atracção irrecusável — sobretudo a exterior, pelo contraste entre o ar frio e a envolvente líquida quente (imaginamos como será quando a neve a rodeia). Não são piscinas “inertes”, são um carrossel de massagens (e alguma emoção — já lá iremos): têm jactos prontos a atingirem qualquer parte do corpo, camas em “ebulição”, chuveiros cheios de pressão para o pescoço e, no exterior, um jacuzzi rodeado de água em movimento circular (e vários jactos, claro), que para nós mais parece uma diversão de parque aquático (entrar e sair são desafios que podem deixar mazelas aos mais incautos).