Fugas - Viagens

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De Lorosae a Loromunu, Timor é um espanto

Também há vendedores de rua mais direccionados para as crianças e jovens (esta gente percebe de marketing sem o saber): vendem pequenas espetadas de carne frita e fatias de manga em saquinhos de plásticos, às portas das escolas. Alguns também têm gelados poloretis. À volta deles juntam-se grupos com as cores das fardas das escolas.

Nesta altura há bandeiras timorenses espalhadas por toda a cidade, por causa das comemorações dos 40 anos da declaração da Independência de Timor-Leste, no dia 28 de Novembro de 1975. Nestes 40 anos o país passou por tudo aquilo que sabemos (só nos primeiros quatro anos de ocupação indonésia Timor-Leste perdeu 23% da sua população), mas, contra tudo e contra todos, conseguiu vencer, transformando-se na mais jovem nação do mundo. Basta dar uma vista de olhos no Museu da Resistência para nos vergarmos perante a coragem deste povo e, depois, arrepiarmo-nos ainda mais no cemitério de Santa Cruz.

Lá, no museu, lê-se: “Deus criou Timor para nos dar madeira de sândalo”, Tomé Pires, Summa Oriental, 1514, mas parece que Tomé Pires se enganou. Se Deus criou Timor tinha, seguramente, outros planos para este país. 

Ataúro, a ilha do sossego

A ilha que se vê de Díli, Ataúro, fica a cerca de 25 quilómetros e é perfeita para uns dias de puro relaxamento. E o puro aqui tem todo um outro significado.

Numa hora chega-se a Ataúro (optando pelo Nakroma, que faz a viagem semanalmente, demora mais tempo e é muito mais barato) e com sorte podemos ver golfinhos na viagem, ou avistar as baleias, que costumam incluir esta zona nas suas rotas migratórias, por esta altura do ano. Não tivemos essa sorte, infelizmente. 

Também não explorámos a ilha como merecia (há vários barcos de pescadores que nos levam a diferentes praias e a sítios ainda mais recônditos), o único esforço que fizemos foi procurar as ruínas da prisão da época colonial portuguesa, para descobrir que nem as ruínas sobram, apenas uma placa a referir que ali existiu uma prisão. De resto, limitámo-nos a desfrutar as magníficas vistas do resort e, sobretudo, o silêncio – aqui não há galos esquizofrénicos a cantar toda a noite, nem cães a ladrar.

A ilha tem cerca de 10 mil habitantes e os poucos que se cruzaram connosco pareceram-nos bastante mais reservados do que os de Díli, talvez por influência do protestantismo, a religião professada pela maioria.

No mercado, junto ao porto, vende-se maioritariamente peixe seco e algas e mesmo aí não há grande ruído ou frenesim. Nem aí, nem no atelier das famosas bonecas de Ataúro, onde umas quantas costureiras as fazem.

É um sossego, esta ilha.

 

Ponta Leste
Lorosae, onde o sol nasce

Quando saímos de Díli em direcção a Baucau, a segunda maior cidade do país, somos imediatamente confrontados, primeiro, com a omnipresença da montanha, no serpenteado e sobe e desce da estrada, e depois com as vistas sobre o mar, sobre a imensidão do mar e do recorte das praias.

A silhueta dos montes que nos faz pensar nas figuras do teatro de sombras, onde não falta o detalhe das árvores desenhado nos altos e baixos, acompanha-nos grande parte da viagem.

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