Fugas - Viagens

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  • Miguel Madeira
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De Lorosae a Loromunu, Timor é um espanto

Chegados à pequena vila, fica-se com a sensação que se entrou num pequeno oásis com o resort bem arranjado a destacar-se. As crianças que o atravessam, vestidas com as fardas da escola, e os sorrisos que lhes são tão característicos, dão-lhe um ar ainda mais aprazível.

Numa pequena visita pela vila – uma caminhada de 10 minutos, de ida e volta, na rua principal – fica-se a saber que, além do resort ,há umas quantas guest houses, onde se pode comer uma bela refeição, tipicamente timorense, a um preço muito económico. Percebe-se que, apesar de sermos os únicos turistas, além de um australiano, a população está à espera dos malais (estrangeiros) para lhes venderem as pequenas peças de artesanato que fazem. Até aqui só nos tinham pedido cumprimentos, sobretudo aos pequenos que viajam connosco, como se tocar num malai fosse uma coisa rara.

Saímos de Com, com uns quantos colares e uma casa típica de Los Palos em miniatura,  em direcção a Tutuala e quando vimos a placa para Jaco pareceu-nos que se tratava de um engano. Provavelmente o vento tinha inclinado a placa para o sítio errado, pensámos, mas não havia nenhuma outra estrada, se é que se podia chamar estrada àquilo.

Enfim, fomos por ali abaixo, afinal toda a gente sabe que para chegar ao paraíso são precisos alguns sacrifícios. E, além disso, íamos fazer o quê, depois de tantas horas de viagem, desistir? Bem, não que isso não nos tenha ocorrido a certa altura, mas a verdade é que passados os 40 minutos que demorámos a percorrer os oito quilómetros que nos levam a Valu, a praia em frente a Jaco, apetece-nos agradecer.

Um dia esta estrada será mais fácil e esta praia estará cheia de gente. Gente muito mais animada, logo muito mais barulhenta, do que o grupo de brasileiras que pernoitou na mesma altura que nós.

Nada contra festas e alegria, aliás, ninguém parece incomodar-se com isso, mas, ou estamos numa idade, digamos, madura, ou aquele sítio pareceu-nos demasiado sagrado para ser profanado com actividades mundanas.

Aliás, Jaco é efectivamente considerado sagrado pelos timorenses – não é permitido pernoitar no ilhéu por isso mesmo, assim sendo temos de montar as tendas do lado de cá, depois de apanhar uns quantos tamarindos, adormecer ao som dos tokés espalhados pelas árvores (uma espécie de lagarto que faz um som repetitivo semelhante ao nome que tem) e esperar pelo dia seguinte.

E no dia seguinte o sol nasce, perto das seis da manhã, um verdadeiro rei que emerge das profundezas do mar de braços abertos, brilhante como nenhum outro. Os golfinhos vêm prestar-lhe vassalagem e damos por nós a fazer o mesmo instintivamente.

Aliás, dobrarmo-nos perante a natureza e desdobrarmo-nos em vénias é a coisa que mais nos apetece fazer ao longo do dia passado no ilhéu de Jaco. Agradecer aquele mar de diferentes tons de azuis, aquela areia branca, aqueles corais que podemos tocar com as mãos, o peixe que pescaram para comermos...agradecer, agradecer e agradecer outra vez. E, já no barco de pescadores que nos vem recolher à hora combinada para atravessar a pequena distância que nos separa de Valu, olhar para Jaco e agradecer mais uma vez.

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