Mas o que marca a diferença em relação a palácios como o de Neuschwanstein, mandado construir pelo primo de D. Fernando, Luís II da Baviera (e cuja construção data de 1869, sendo, portanto, posterior ao da Pena), é a ligação ao passado de Portugal. “Enquanto nos seus palácios os germânicos evocam os estilos gótico e românico, D. Fernando vai evocar outras paisagens e regiões culturais, como a arquitectura mourisca, a indiana e a manuelina”, afirma Nunes Pereira. “O espírito e o conceito é o mesmo, mas o resultado é outro porque os lugares onde se erguem e as nações que evocam são diferentes.”
Há uma dificuldade para quem tenta contar a história do palácio aos visitantes que é a da existência de dois tempos diferentes: o primeiro durante a vida de D. Fernando II e D. Maria II, que ali habitaram, e o segundo já com o rei D. Carlos I e a sua mulher, a rainha D. Amélia, que tiveram também uma profunda ligação à Pena.
Por isso, quando percorremos as salas e, sobretudo os espaços privados, vamos recebendo informação que nos permite perceber a utilização em cada uma dessas duas fases. Um exemplo é o quarto de D. Amélia, que foi, anteriormente, o quarto de D. Fernando e que mantém elementos das duas décadas.
Depois das obras de recuperação, grande parte do trabalho que está actualmente a ser feito prende-se com o estudo do mobiliário. “É um trabalho que está no início. Sabemos que o mobiliário de D. Fernando foi feito pela casa Barbosa e Costa, temos os recibos, as datas, mas quem o desenhou, de onde vieram os modelos, que influências teve, isso não sabemos.”
E este é um aspecto muito importante, porque dessa reflexão sobre a identidade nacional feita por D. Fernando faz parte também “a recuperação das artes decorativas, a azulejaria, o trabalho de pedra”, um “recolher do passado ideias para uma produção artística do presente” — algo que, frisa Nunes Pereira, “é extremamente actual”.
Igualmente fundamental é entender a relação do palácio com o parque em que está inserido. Durante muito tempo essa tarefa era bastante mais difícil, pois a gestão do palácio e do parque estava nas mãos de duas entidades distintas. O facto de a Parques de Sintra ser agora a responsável por ambos permitiu uma recuperação conjunta e uma visita integrada.
“Quando o rei chega a Portugal fica deslumbrado com o potencial de criação de um parque romântico em Sintra”, explica Nuno Oliveira, director técnico para o património natural. “Vê a ruína do antigo mosteiro da Ordem de São Jerónimo, que está no topo da montanha, e a que chamam o ninho das águias. As ruínas eram um dos elementos decorativos dos parques românticos, tal como os rochedos e penedos que aqui existiam. A base está toda lá, é uma paisagem com um grande potencial romântico.”
Assim, para áreas que até então eram sobretudo de pastagem e muito pobres, D. Fernando traz plantas vindas dos pontos mais exóticos do mundo, “desde uma floresta nórdica de coníferas até ambientes mais ligados à Austrália e à Nova Zelândia, passando por espécies americanas, camélias, azáleas e rododrendos”. E, graças ao microclima de Sintra, estas adaptam-se bem aqui.