Fugas - Viagens

  • Grande Teatro de Poznan.
    Grande Teatro de Poznan.
  • Lago Malta
    Lago Malta
  • Catedral
    Catedral
  • Ilha da Catedral
    Ilha da Catedral
  • Ilha da Catedral
    Ilha da Catedral
  • Ilha da Catedral
    Ilha da Catedral
  • Ilha da Catedral
    Ilha da Catedral
  • Castelo imperial
    Castelo imperial
  • No centro
    No centro
  • Malta e comboio Maltanka
    Malta e comboio Maltanka
  • Ponte sobre rio Cybina
    Ponte sobre rio Cybina
  • Praça Adam Mickiewicz com monumento da revolução de 1956
    Praça Adam Mickiewicz com monumento da revolução de 1956
  • Stary Rynek
    Stary Rynek
  • Stary Rynek
    Stary Rynek
  • Universidade Adam Mickiewicz
    Universidade Adam Mickiewicz

Continuação: página 4 de 8

O berço romântico da Grande Polónia

É um descanso, Malta

Cada recanto é um encanto, cada pedra puída dos edifícios eclesiásticos que cinturam a catedral preserva histórias de bravura e barbárie, de conquistas e perseguições a que esta porção de terra, onde nasceu a Polónia, entre os rios Warta e Cybina, foi acometida durante séculos. A atmosfera do lugar adquire contornos melancólicos à medida que deambulo, aleatoriamente, por charmosas e tranquilas ruas e vielas, por entre figurinos humanos de gestos lentos e mudos, ao abrigo da solenidade do lugar. Nem uma brisa a soprar por entre descuradas paredes de tons mais funestos dos cintilantes da Stary Rynek. De costas para a nave da catedral e já sobre a língua azul do Cybina, atravesso a ponte dos suspiros de Poznan, aqui Biskupa Jordana, que, ao invés da parisiense, continua a ostentar pinhas de cadeados com juras eternas de amor, alguns dos quais excelsas peças de artesanato.

As aulas de História sucedem-se ao ritmo a que nos deslocamos pela cidade, com sessões contínuas de episódios marcantes de Poznan. Do outro lado da ponte de calçada parente da portuguesa, encimada por vigas cor de um sangue aqui derramado, cruzo a avenida João Paulo II, alcançando o desmedido manto líquido de cambiantes verdes que ondulam ao ritmo soturno das águas cristalinas. Situo-me na zona Oriental da cidade, no lago Malta, um éden de paz e retiro espiritual. Jovens e menos jovens dividem-se entre a leitura e a contemplação do reservatório artificial, criado em 1952 por forma a reter as águas do rio Cybina, a cirandar nas cercanias. Paradoxalmente, a placidez paradisíaca do cenário contrasta com a azáfama aqui gerada por alturas da criação do Reino de Portugal. Nos tempos idos do século XII, os antigos proprietários destas terras — os Joannitom — estabeleceram, a convite do príncipe Mieszko, o Velho, a sede principal da Ordem, célebre em toda a Europa pelos cuidados médicos prestados aos pacientes. A acção dos nobres cavaleiros, mais tarde designados por Cavaleiros Hospitalários de Malta, transformou este espaço numa mini-ilha, replicando o célebre arquipélago mediterrânico. O sol esvai-se no horizonte, dourando as águas mortiças, evocando a tonalidade das medalhas mais arrebatadas pelos canoístas que aqui se preparam para os eventos da modalidade — o lago alberga, na margem sul, uma das pistas de regatas mais modernas do velho Continente. O sibilo da locomotiva a vapor sarapanta os patos e fisga a minha atenção para uma linha férrea que antecipei como desactivada. Embuste. A cada hora e ao longo de 3,8 kms, o Maltanka — comboio azul-infantil montado em apenas quatro carruagens desvidraçadas — sulca o carril solitário, serpenteando pela margem norte, rumo à estação terminal, no Novo Jardim Zoológico (existe o antigo). Esta preciosidade, pode ler-se numa placa carcomida pela ferrugem, ostenta, com garbo, o título de “o mais antigo vagão a motor em actividade na Europa”.

Os Descobrimentos

O regresso à faixa monumental do burgo faz-se por um dédalo de artérias ofuscadas pelo ocaso, que bombeia gente para o coração da cidade. Stary Rynek, ou Praça do Mercado Velho, provoca um amor ao quadrado, em respeito da sua geometria, agora alumiada pelos néons das fachadas e candeeiros de luz parda, como soldadinhos de chumbo que protegem este museu livre de paredes. Como enormes telas a óleo do notável pintor da casa Juliusz Kossak, as ornamentadas casinhas de estilo gótico e renascentista, de cores provençais, assistem, impávidas, ao desfile de noctívagos que ali se concentram pontualmente, como os cabritos que, lá do alto da Ratusz, andam à turra às horas certas. Lá está ele, discreto e sorridente. Os passos vagarosos de Ivan acompanham o acentuar do lusco-fusco que transforma num teatro de sombras vivas esta praça encantada. Enquanto degustamos uma dose de pierogi, parentes próximos dos ravioli, Ivan continua, décadas volvidas, a surpreender-me pelo conhecimento da História e estórias que povoam os lugares. A que se segue expôs a minha ignorância.

--%>