Fugas - Viagens

  • Grande Teatro de Poznan.
    Grande Teatro de Poznan.
  • Lago Malta
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  • Catedral
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  • Ilha da Catedral
    Ilha da Catedral
  • Ilha da Catedral
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  • Castelo imperial
    Castelo imperial
  • No centro
    No centro
  • Malta e comboio Maltanka
    Malta e comboio Maltanka
  • Ponte sobre rio Cybina
    Ponte sobre rio Cybina
  • Praça Adam Mickiewicz com monumento da revolução de 1956
    Praça Adam Mickiewicz com monumento da revolução de 1956
  • Stary Rynek
    Stary Rynek
  • Stary Rynek
    Stary Rynek
  • Universidade Adam Mickiewicz
    Universidade Adam Mickiewicz

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O berço romântico da Grande Polónia

Encontro-me com Ivan em frente ao Collegium Minus, edifício que alberga a administração de um pólo que tem 50 edifícios disseminados pelo centro da cidade. Amigo de longa data e de outras paragens, o sempre atarefado sérvio encontrou uma brecha na sua exígua agenda para desvendar por que razão se enraizou numa nação que não a sua. “A cidade é isto que vês”, apontando com o rosto em direcção aos jovens formiguinhas que galgam as escadarias, de alma renovada, como na obra Fédon, de Platão — “A alma não se limita a ser entendida como o princípio da vida, mas é também vista como o princípio de conhecimento”. “Todos se querem formar em Poznan, possuidora de uma qualidade de vida sem paralelo.” Facultou-me um dado esclarecedor. “Ainda recentemente, a taxa de desemprego, dentro da cidade, rondava os 2%.” Mas não há bela sem senão: “Aqui vais sentir-te em casa, ainda que os locais sejam um pouco nacionalistas, talvez por a História lhes recordar um rol de invasões.”

Prosseguimos escassos metros pela Šwiëty Marcin para, sobre a esquerda, desembocarmos na praça homónima à Universidade. Aqui, no âmago cultural e educacional da cidade — sede da Universidade Adam Mickiewicz, da Academia Musical, da Academia de Economia, do Grande Teatro, em reconhecimento a Stanislaw Moniuszko, do Centro de Cultura ou do Palácio do Keiser — sobressai um dos monumentos mais representativos (e sentimental) de Poznan: duas imponentes cruzes em betão armado em homenagem às vítimas de Junho de 1956. Austera, a obra é flanqueada por edifícios de uma beleza poética. Pouco adiante, e descendo pelo eixo principal, temperamos os corpos numa sombra defronte do Zamek Cesarski, o Castelo Imperial. O indicador da mão direita de Ivan conduz-me à parte inferior do robusto edifício de pedra granítica.

“Vês ali a data?” Como se fosse plausível não atentar nos descomunais números em latão negro: 1956. “Esta data está por toda a parte.” Em terra de estudantes, o meu professor da história local é forasteiro, tal como largos milhares de alunos integrantes do programa Erasmus.

“Foi nessa praça que espoletaram os acontecimentos de Junho de 1956, coincidindo com a primeira grande manifestação que teve lugar sob o domínio do regime comunista, no período da opressão estalinista. O lema ‘verdade, liberdade e pão’ reuniu aqui mais de 100 mil pessoas, que ocuparam todos os edifícios públicos. Mas o Comité Central do Partido Comunista, em Varsóvia, decidiu reprimir, terrivelmente, as manifestações, e, pela força de tanques e soldados, assassinou 70 manifestantes e prendeu cerca de mil.” Esta parte acrescento eu, após ler numa placa: “No dia 28 de Junho de 1981, nos 25 anos do aniversário do Levante (assim se chamava o movimento), ergueram-se duas cruzes, idealizadas por Graczyk e Wojciechowski, em memória das vítimas de 1956.”

O turno da tarde entra ao serviço. Alva e cálida, a luz fere o olhar quando este se ergue para contemplar as fachadas neo-renascentistas decoradas a motivos em estuque. Presenciámos a última das reivindicações, na devida distância, contra a presença de migrantes (sírios e não só) em solo polaco cristão. Não eram muitos, mas intimidavam pelo porte físico e, sobretudo, pelos ideais xenófobos. Paradoxalmente, esta tem sido a história de Poznan, amada e disputada por todos os impérios: prússio, alemão e soviético.

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