Se as minas não são perceptíveis do nosso ponto de observação, são-no as florestas que também estiveram associadas à actividade de mineração. Nos tempos mais antigos, conta Birgitte, a produção do carvão era essencial para derreter o ferro e então a floresta era um bem imprescindível. “Era cortada a cada 18 anos e os troncos tinham a medida exacta necessária para a produção do carvão. Os ramos eram poupados para as padarias”, explica. Por isso, foi criada uma cooperativa, a autoridade máxima para manter a sustentabilidade da floresta, decidindo o que se podia cortar de modo a assegurar a sua manutenção para as gerações futuras, continua. “Actualmente, viraram as costas e estamos a viver à custa das gerações futuras”, conclui — e onde já ouvimos isto?
Gerações futuras
Não distinguimos as minas na paisagem, porém distinguimos o complexo da universidade. Em Siegen formam-se gerações futuras: 20 mil estudantes fazem dela uma cidade universitária, com pendor para a formação técnica e económica. É difícil percebê-lo numa passagem rápida. Nem no centro, e voltamos à praça do mercado quando o dia está a dar os últimos suspiros de luz, vimos movimento que nos fizesse remotamente imaginar que estamos em cidade povoada de estudantes. Ou, sequer, com cem mil habitantes. Este é o centro da cidade desde a sua fundação, numa altura em que a governação estava dividida entre os condes de Nassau e o arcebispado de Colónia. Aqui ergue-se a igreja de São Nicolau, com a sua torre debruada a laranja, e o Altstadtisches Rathaus, o edifício da câmara municipal, também ele de origem medieval mas com fachada oitocentista em estilo Tudor-gótico (reconstruída após a última guerra mundial). Em finais de Outubro já se começam a erguer as barracas para o mercado de Natal (que, entretanto, já veio e foi), à sombra do carvalho oferecido por Bismarck, o obreiro da unificação alemã, em torno da estátua Germania, monumento dedicado aos cidadãos de Siegen que morreram em diversas guerras no século XIX. Uma longa escadaria leva-nos à parte inferior da praça, onde uma obra de arte abstracta com várias traves pintadas dispostas em círculo é, afinal, um simulacro da coroa-símbolo da cidade (que a tutela no alto da torre) e em tempo de calor também é fonte. É um cenário pitoresco, próprio de uma cidade pequena, mas “é demasiado doloroso vir aqui, não há estacionamento”, afirma Birgitte. E tão-pouco há motivos. “Temos um problema aqui no centro da cidade, as lojas estão a fechar porque abriu um centro comercial à beira da estação de comboios.” Antes havia um grande armazém, à maneira francesa (as department stores inglesas), contudo o primeiro andar transformou-se numa biblioteca e o rés-do-chão num supermercado e mais umas poucas lojas avulsas.
Talvez este cenário mude quando o “castelo inferior”, também conhecido como “castelo holandês”, receber um pólo da universidade, o que está previsto para este ano. Não chegamos a visitar o complexo com três alas construído entre 1695 e 1720 e que tem espaço reservado à cripta real da linhagem protestante dos Nassau. No mesmo conjunto, construiu-se em 1959 um memorial às vítimas da guerra e da tirania, a dicker turm, “torre gorda”. De fora ficou também o Museu de Arte Contemporânea, que, além de exposições temporais, tem como mostra permanente a colecção Lambrecht-Schadeberg, que reúne diversas obras dos vencedores do Prémio Rubens, entre pintura, desenho, escultura e fotografia.