Ginsberger Heide
Florestas encantadas e castelos que forjaram dinastias
Parece ser o centro nevrálgico deste planalto de Ginsberger Heide, no sul do novíssimo Parque Natural de Sauerland-Rothaargebirge que em 2015 foi criado unindo três parques, incluindo o Parque Natural Rothaargebirge a que esta região pertencia, para constituir-se como o segundo maior da Alemanha. Um hotel-restaurante que leva o nome da zona, Ginsberger Heide, perto de Hilchenbach, e ponto de partida para nada senão densas florestas que, graças à humidade e chuva, apresentam-se com uma variedade imensa de fauna e flora — há, por exemplo, mais de 20 espécies de fetos, “que na Nova Zelândia são árvores”, sublinha Birgitte, a guia, e borboletas, insectos e aves muito particulares. Entre carvalhos e abetos, com os arbustos, os musgos, a luz que mal consegue penetrar a folhagem ainda a vestir as árvores mas também já a forrar os caminhos — e voltamos à infância, tentando fazer estalar as folhas secas (missão impossível, devido à humidade) — parece que estamos em territórios mágicos, onde elfos e duendes podem materializar-se perante nós a qualquer momento. Não é por acaso que o hotel, entre os muitos pacotes que oferece para explorar a área, tenha um que se chama “Seguindo os passos de bruxas, ervas e donzelas da Idade Média”: é fácil imaginar mulheres sábias a escolherem criteriosamente as ervas para fazer as suas “poções” ou a fazerem rituais e conjuração das forças naturais; também não é difícil imaginar caças às bruxas e punições às hereges.
Mas antes da caminhada, que nos levará a um castelo quase em ruínas donde houve Holanda independente de Espanha (já lá iremos), onde, por coincidência de calendário (é 31 de Outubro), encontramos um grupo de crianças a celebrar o dia das bruxas, embarcamos noutra sugestão do hotel. Recuamos no tempo e, ao mesmo tempo, entramos no estereótipo rural alemão: numa carroça coberta puxada por dois pachorrentos cavalos (de sangue-frio, mais fortes que os outros), sentados ao longo de uma mesa onde se servem licores e cervejas, percorremos a área de Ginsberger Heide e da floresta adjacente. A nossa guia ainda torna tudo mais típico quando ensaia algumas das canções tradicionais que costumam acompanhar os trabalhos no campo. Pelo meio, vai-nos contando como, depois da queda do muro de Berlim, se tentou construir aqui um caminho-de-ferro para Leste (ia diminuir bastante o tempo de ligação até Siegen, por exemplo, que leva uma hora por estrada, “mas a que preço?”, interroga-se), “contudo, os ambientalistas venceram e manteve-se o parque”. Aqui, nas montanhas de Rothaargebirge nascem três rios, incluindo o Sieg (que dá nome à cidade de Siegen) que corre até ao Reno, e os lagos são incontáveis, por isso a pesca é muito popular e o peixe parte das tradições gastronómicas de Natal e Ano Novo: truta fresca é indispensável. Mas as actividades mais procuradas são mesmo as caminhadas (há 3500 trilhos) e a BTT (ou não, as ciclovias são muitas). No Inverno, se o clima é generoso — ou seja, se neva —, os esquis saem do armário. Já estamos novamente na órbita do hotel e o que miramos como apenas uma colina não muito alta (ainda que com inclinação razoável) coberta de erva, quando neva torna-se pista de esqui que desemboca num grande prado. Também se pratica esqui cross country e os trenós são uma constante.