Gostaríamos de ter caminhado pela zona da “cidade velha”, aquela cujos quarteirões sobreviveram à II Guerra Mundial. É, claro, a que melhor mantém o espírito de Siegen, sobretudo na arquitectura de enxaimel — de pedra ou tijolo mas com as paredes cruzadas de traves de madeira na horizontal, vertical ou inclinadas que lhes dão um rosto inconfundível — com telhados de xisto que acompanham ruas de empedrados desequilibrados. Aqui respira-se a velha Siegen, dizem-nos, e aqui queremos regressar. Por agora, saímos da principal cidade do distrito de Siegen-Wittgenstein, o centro administrativo e de serviços do sul da Vestefália, para avistar bisontes e subir a torres de castelos rodeados de floresta por todos os lados.
Wisent Wildnis
Bisontes europeus no mais populoso estado alemão
Nas pinturas rupestres por toda a Europa são dos animais mais representados, o que dá ideia da abundância dos bisontes nas florestas europeias. Mas muitos milénios passaram e o bisonte tornou-se por este continente algo de quase mítico, ainda que na verdade só se tenha extinguido no seu estado livre em 1927, na zona do Cáucaso. Foi, aliás, no leste europeu que o bisonte europeu mais tempo perdurou, uma vez que a sua caça era privilégio real na Rússia, Polónia e Lituânia. Os jardins zoológicos foram o porto seguro do bisonte europeu até aos anos 1950, quando foram reintroduzidos 12 exemplares num bosque polaco. Desses, descendem os quatro a cinco mil exemplares que agora povoam vários parques e florestas, não só na Polónia como na Bielorrússia, Rússia, Ucrânia, Roménia, Lituânia e, desde, 2013, na Alemanha, no seu estado mais populoso, Renânia do Norte-Vestefália.
Chegamos ao sul da Vestefália vindos de sul e, deixando as auto-estradas para trás, percorremos estradas estreitas de montanha. Estamos rodeados de florestas que parecem saídas de contos de infantis e esconder tanto duendes como ogres, pintadas do amarelo de pinheiros mal-amados para os jardins (são os únicos que perdem agulhas) mas perfeitos na paleta de cores outonais, aqui e ali surgem ribeiros ansiosos, campos de verde vivo onde pastam vacas e cavalos (parecem da raça Aegidienberger, baixos, entroncados, pêlo abundante e selvagem na crina e na cauda) ou campos amarelos onde o feno está enrolado, linhas-férreas com comboios turísticos, pontes de pedra; atravessamos pequenas aldeias brancas e a névoa cobre a paisagem eminentemente rural, ainda que aqui e ali surjam pólos industriais. Aqui, muitos são agricultores em part-time, explicam-nos, os solos não são muito bons: trabalham em Siegen ou nas indústrias e nos tempos livres dedicam-se à terra. Custa a crer — e voltamos a isso — que estejamos no estado mais populoso da Alemanha, onde se erguem cidades como Colónia, Düsseldorf e Dortmund, por exemplo; onde a maior área metropolitana da Europa (o Rhiner-Ruhr, 11 milhões de habitantes) convive com tantos espaços naturais, vazios ou rurais.
O nosso quartel-general neste distrito de Siegen-Wittgenstein é em Feudingen (Bad Laasphe), aldeia pitoresca com dois mil habitantes e dois hotéis, pelo menos — o nosso também é spa —, que correspondem também aos únicos pubs daqui e onde as noites são, portanto, entregues aos locais. Estamos numa das maiores áreas de floresta da região, berço de muitos rios, que constitui um parque natural, muito procurado para caminhadas e ciclismo, com rotas definidas para diversos níveis de dificuldade. É daqui que partimos para Wisent Wildnis (Bad Berleburg), meia hora de caminho até ao parque que se tornou no primeiro refúgio do bisonte-europeu na Europa ocidental.