Fugas - Viagens

  • Nelson Garrido
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Wroclaw, 70 anos à procura de uma identidade europeia

É altura de recuperar a frase do presidente da câmara — foi quando regressou à Polónia que a cidade se sentiu segura para procurar uma identidade, verdadeira e definitiva. Demorou 70 anos a encontrá-la, tentando fundir a atmosfera do passado com os seus novos habitantes.

Se outras capitais europeias de cultura foram oportunidades para cidades revitalizarem zonas urbanas, criarem uma rede de equipamentos culturais (aproveitando o modelo de financiamento da iniciativa, que conta com dinheiro de Bruxelas e local) ou de porem no mapa do turismo os seus museus e monumentos, Wroclaw avançou para uma abordagem diferente. Até ao fim do ano, haverá exposições, concertos, performances, mas haverá sobretudo “um espírito de cidade multicultural e aberta”, como disse o organizador do Despertares, Chris Baldwin (foi ele que concebeu o espectáculo de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012). Wroclaw propõe tornar-se “um laboratório do futuro”, aceitando finalmente que tem de haver “um diálogo entre o seu passado e o seu futuro”.

O espírito vibrante e cosmopolita da Breslau do pré-guerra já está de volta — começou a regressar em 1989, quando o Muro caiu e o isolamento acabou. O bairro universitário é uma cidade dentro da cidade e por ele circulam 150 mil estudantes, mais de um quarto da população da cidade de 630 mil habitantes. Mal a noite cai, muito cedo, no Inverno da Baixa Silésia, os estudantes povoam os milhares de cafés e bares do centro da cidade.

São modernos e urbanos, como o Neon, na Rua Ruska, onde foi instalada uma exposição temporária de néons de empresas do período comunista. Estão pendurados nas traseiras de prédios altos — são “salpicos cinzentos” —, criando uma atmosfera industrial e decadente.

São tradicionais, o que nesta zona da Europa significa cervejarias. Na Spiz, em pleno Rynek, é preciso paciência para se conseguir uma mesa e provar uma das cervejas que ali se fabricam (entrar nesta cervejaria é também visitar um pequeno museu industrial). Será mais fácil quando o Inverno acabar e reaparecerem os “jardins de cerveja” (esplanadas). A Wiezienna fica no pátio da antiga prisão medieval e a esplanada da Mleczarnia aproveita a sombra da Sinagoga White Stork, no antigo quarteirão judeu que agora faz parte do bairro das quatro religiões, porque ali estão também templos das religiões católica, protestante e ortodoxa.

Também há bares antigos e muito elegantes, como o Kalembur, um sobrevivente da era pré-guerra (as bombas não o apanharam). É, por isso, o bar mais antigo da cidade, e um dos mais bonitos, com o mobiliário em madeira escura, os candeeiros e os pormenores de decoração Arte Nova em ferro. Uma nuvem de fumo envolve a sala e, em fundo, ouve-se música de época.

Podíamos estar em 1900, quando a cidade era o reflexo da abastança desta região industrial, comercial e académica (a primeira universidade é setecentista) e no meio de uma rua passeavam homens poderosos e jovens aristocratas, como Manfred von Richthofen, o barão vermelho, o “ás dos ases” da aviação na I Guerra Mundial, que ali nasceu e cresceu.

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