Fugas - Viagens

  • Uma viagem pelo lago Tonlé Sap
    Uma viagem pelo lago Tonlé Sap
  • Consoante a época do ano, o cenário em volta do Tonlé Sap varia de forma significativa
    Consoante a época do ano, o cenário em volta do Tonlé Sap varia de forma significativa
  • Lago Tonlé Sap
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  • Siem Reap
    Siem Reap
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  • Battambang
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  • Templo de Bana - Battambang
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  • Battambang, o mercado
    Battambang, o mercado
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  • Battambang
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Camboja: A voar por cima das águas

Angkor e a costela de Banan

Ir a Roma e não ver o Papa. A expressão define o que seria uma viagem ao Oriente – ao Sudeste Asiático, particularmente – e não conhecer Angkor, símbolo do esplendor da civilização khmer e das vicissitudes históricas da região.

A antiga capital do reino khmer não foi apenas um importante centro político e religioso, foi também um produto de uma fusão cultural e arquitectónica que integrou referências hindus (a Índia legou expressivas matrizes culturais e religiosas a toda a região) e budistas, tendo a sua arte exercido profunda influência sobre manifestações artísticas em quase todo o Sudeste Asiático.

O fascínio que exerceu sobre viajantes de outros tempos pode bem ser aferido pelos termos da descrição que o cronista Diogo do Couto redigiu, a partir das notas de António da Madalena, o frade capuchinho português que terá sido o primeiro ocidental a ver Angkor, por volta do final do século XVI. O historiador português fala de uma “formosíssima cidade” e de um templo “estranho”, a que nenhum outro se poderia comparar em todo o mundo e que nenhuma pena seria capaz de descrever. Por ironia, o texto – a Relação de Angkor – não seria incluído na publicação da sua obra em Portugal. Outros missionários portugueses visitaram nessa altura Angkor e o Camboja, mas o trabalho de evangelização não foi fácil numa terra de sólidas convicções religiosas. Sobre isso desabafaria Gaspar da Cruz (que passou pelo Camboja a caminho das terras do Império do Meio) no seu Tratado em que se contam muito por extenso as cousas da China: “Como quer pois que os brâmanes sejam a mais rija gente de converter, por ser mui pegada a seus ritos e idolatrias sendo el Rei brâmane e seus estimados e mais privados brâmanes, é este um mui grande impedimento naquela terra para se poder fazer cristandade”.

O templo de Angkor Wat é apenas um dos que se conservam no vasto conjunto que reúne uma infinidade de edificações de carácter religioso – como os templos Bayon (conhecido pelas seus colossais rostos de pedra) e Preah Khan (o das raízes devorando os edifícios) – e civil (estruturas hidráulicas e extensos caminhos nos meandros da selva). Alguns destes templos foram objecto de restauro (não sem alguma polémica) pelo Archaelogical Survey of India nas últimas três décadas e a recomposição do Ta Prohm ainda prossegue, colocando sérios problemas técnicos em virtude do grau de desagregação e da acção das tentaculares raízes tropicais.

Um aspecto muito curioso deste enorme parque arqueológico é o facto de ser habitado – e por famílias cujos antepassados ali viveram há séculos, gente que se mantém, tal como eles, ocupada com o cultivo de campos de arroz. Para os visitantes mais atentos a outros signos que não, apenas, os dos tão assediados templos de Angkor, a observação das rotinas rurais dos seus habitantes pode ser um inestimável complemento da jornada, ao longo dos trajectos de bicicleta entre os templos. Pedalar pode ser, realmente, um dos meios mais estimulantes para aceder aos principais locais dentro do parque arqueológico, que chegam a distar quilómetros entre si.

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