Sobre as influências e o contexto arquitectónico de Angkor Wat – cuja construção se iniciou na primeira metade do século XII –, formou-se a convicção, a certa altura, de que o templo de Banan pode ter sido o modelo que os arquitectos khmers privilegiaram. Banan fica a cerca de vinte quilómetros de Battambang, seguindo uma pitoresca estrada que atravessa várias aldeias e arrozais e flui ao longo do rio Sangkae. Para se chegar ao templo há que subir uma longa e íngreme escadaria, que vence um declive de quatrocentos metros. O templo de Banan, actualmente um santuário budista, sugere a arquitectura do Angkor Wat, embora os cinco prasats (torres) não sejam tão elevados nem a arte de figuração em baixo-relevo revele a sofisticação do segundo: lembrar-se-á o viajante, com secreto júbilo, da apurada sensualidade das apsaras representadas na pedra dos templos de Angkor Wat e Bayon. Para observar algo de arte figurativa semelhante, o Museu de Battambang conserva fragmentos ornamentais em baixo-relevo, assim como alguns dos lintéis do Banan.
A hipótese avançada em tempos sobre o parentesco com Angkor Wat ficou por provar, baralhada pela cronologia de edificação que não deixou comprovada a anterioridade de Banan. Se essa condição vier algum dia a ser reconhecida, então, sim, poder-se-á arriscar a afirmação de que daqui viajou uma das costelas de Angkor Wat.
Battambang, turismo e voluntariado
No caminho que vai de Battambang a Banan, uma surpresa aguarda o viajante: vinhedos, os únicos do Camboja. Tintos, brancos e, até, um brandy, podem ali ser degustados. Battambang, cidade de província afamada pelo seu breve casario colonial (alguns belos edifícios Art Déco, como os do mercado e da velha estação ferroviária), não tem Angkor à mão, como Siem Reap, mas além do milenar Banan conta com muitos e variados motivos a justificar a estância. E mesmo no capítulo dos templos angkorianos, Banan não é o único na região: o semi-arruinado Wat Ek Phnom, encafuado no meio da selva, não faria má figura numa dessas fitas sazonais de Hollywood animadas por piruetas de arqueólogos aventureiros.
Para os dias todos haverá um qualquer programa ajustado a diferentes preferências e sensibilidades; o agora turístico, mas ainda útil à população, comboio de bambu (uma simplificação artesanal do extinto serviço ferroviário cambojano), o pequeno museu com relíquias arqueológicas retiradas dos vários templos à volta da cidade, os itinerários ao longo do rio, as aldeias e o mundo rural dos arrozais nos arredores, o mercado central e as suas bancas de comida popular, a colina de Phnom Sampeau e uma mão-cheia de belos templos e de estátuas dispersas pelas furnas e pelo arvoredo. E ainda, as killing caves, grutas que foram palco das atrocidades dos khmers vermelhos. É um cenário impressivo, com um Buda sereno repousando ao lado de ossadas e dos crânios.
Se o viajante desejar atenuar ou compensar a “pegada cultural” deixada pelo turismo, há pelo menos duas formas. A primeira é fazer-se espectador do Circo de Battambang, na Phare Ponleu Selpak Circus’s School, cuja receita reverte em parte para uma ONG local (informação disponível em www.phareps.org); a outra será visitar uma das escolas precárias das aldeias dos arredores e ajustar com os responsáveis formas de apoio, que podem passar, também, pelo agora tão trendy voluntariado, que em Battambang parece ser quase tão comum como o turismo. Uma sugestão: a Slarkarm English School, uma escola situada numa aldeia (Slarkarm) situada a sete quilómetros de Battanbang (tel. :855-12815968, mais informação em www.slarkramenglishschool.com).