Fugas - Viagens

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Uma cidade a sul das nuvens

Em roda dos arcos volteiam centenas de turistas chineses a toda a hora, como, aliás, por tudo o que seja atracção inscrita nos roteiros e guias de viagem. A China vive um tempo paradoxal de modernização (e de confronto com os conflitos que esse processo gera) e de abertura e procura activa da novidade, um movimento absolutamente contrastante com o que caracterizava os períodos históricos imediatamente anteriores. A (cada vez mais) desmesurada expressão do turismo interno faz parte desse quadro.

Para Li-Mei, de uma família originária de uma aldeia perto do lago Erhai, em Dali, onde se conserva a antiquíssima arte de decorar as paredes brancas das casas com pinturas de paisagens - montanhas, árvores, lagos, riachos e pássaros -, a relação com o urbanismo central de Kunming é cordial. Para um estrangeiro, a distância cultural interpõe uma névoa, uma opacidade quiçá intransponível: o que alicerça essa “aprovação” vem do conformismo confucionista ou de uma integração de carácter taoista dessas tantas mudanças que a China vive actualmente e que despovoam as cidades dos lugares da infância? Talvez as duas razões, que se fundem no olhar sereno de Li-Mei. Por mim, basta-me ter à mão de mirar a perenidade que é a excepção a firmar a regra, os belos arcos e pagodes que povoam o grande continente chinês, símbolo de uma arquitectura fiel às suas obsessões seculares, agora rodeados de modernidade e de gente que, não obstante os insanáveis etnocentrismos ocidentais, é também gente do século XXI.

Kunming, uma moderna cidade antiga

São amplas as avenidas por onde flui o tráfego e largas, também, as faixas pedonais, batidas por um rio de gente. Estas larguezas não são novidade, embora o rápido desenvolvimento das últimas três décadas as tenha firmado ainda mais: já Gaspar da Cruz se maravilhara no século XVI com tais urbanismos e deles deu conta no seu Tratado em que se contam muito por extenso as cousas da China: "Em muitas cidades das principais (...), as ruas são tão nobres e largas que podem ir por elas, emparelhados, dez, quinze homens a cavalo, com lhes ficarem às bandas mui bons cobertos, onde vivem muitos mercadores de muitas e diversas mercadorias...".

Estes espaços pedonais da área central de Kunming, intervalados de jardins, não são inéditos nas grandes cidades chinesas. Na vizinha província de Sichuan, até mesmo a gigantesca aglomeração urbana de Chongqing, a mais extensa do mundo, com os seus (im)prováveis trinta e tantos milhões de habitantes, pelo menos até há uns minutos, tem certas áreas fechadas ao trânsito, ainda que tal não garanta nenhuma imunidade perante o flagelo da poluição. Na capital do Yunnan, a pressão para a construção, o modelo de desenvolvimento e a atracção exercida sobre migrantes do meio rural, embora num mais atenuado grau relativamente ao resto da China, induziram um significativo crescimento da cidade, actualmente com mais de seis milhões de habitantes – um número modesto, em todo o caso, tendo em conta a realidade populacional chinesa e a dimensão dos maiores centros urbanos do país.

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