“Eu revejo-me nessa ideia” de um país que combate a melancolia, diz Paula, que será a guia de serviço quando o grupo da Fugas chegar a Zadar. Mas antes de aí chegar por auto-estrada, a viagem segue rumo ao norte, Opatija, cujas primeiras referências históricas datam do século XV. E, curiosamente, é nessa pequena cidade ao lado de Rijeka, no noroeste do país e a 50km da cidade italiana de Trieste, que se pode encontrar a primeira referência turística a esta ideia de um país que combate a melancolia.
Opatija, um rico sonho
Em croata, Opatija quer dizer abadia, por causa do mosteiro e da igreja que estão na base da fundação desta vila que há cerca de 170 anos se tornou numa coqueluche do turismo europeu, especialmente para a realeza de então, os nobres e os endinheirados. A expansão deste berço turístico começou em 1844, quando Ignio Scarpa, um empreendedor rico de Rijeka, comprou as terras onde viria a construir, em homenagem à sua mulher, uma das casas mais famosas de Opatija, a Villa Angiolina.
É ainda hoje um ponto de passagem obrigatório para os visitantes, seguindo as peúgadas de nomes ilustres dos séculos XIX e XX que por ali passaram por razões diversas. A mais relevante para a questão identitária talvez seja o facto de em Opatija o Adriático se estender a dois passos de distância da montanha Ucka (lê-se Utschka), uma combinação que permite o melhor de dois mundos ao longo do ano: praia no Verão, montanha e neve no Inverno.
Albert Einstein foi um dos ilustres habitués de Opatija; a bailarina Isadora Duncan e o compositor Gustavo Mahler também; da realeza, os registos mais antigos mencionam o Imperador Francisco José, e os mais recentes assinalam um sem número de vedetas do cinema mundial, porque se trata de uma terra muito procurada pelas grandes produções cinematográficas. Não se espante se der de caras com um Robert de Niro ou uma Naomi Watts a andarem por ali descontraídamente, tal como em tempos mais remotos o fizeram Charlie Chaplin ou Kirk Douglas.
O Hotel Kvarner, que abriu em 1884 como a primeira unidade local, é uma das jóias da coroa desta riviera que se estende muito para lá e para cá de Opatija. Era, e é ainda hoje, o poiso para aqueles que procuram o clima ameno desta localidade, outrora recomendada pelos médicos da elite austro-húngara e, depois, de toda a Europa, para curar diversas enfermidades. Uma referência a esse passado que se transportou para os dias de hoje encontra-se num placard turístico na Villa Angiolina, em que se menciona que Opatija era procurada pela combinação única dos ares marítimos e de montanha para curar “problemas respiratórios e cardíacos sérios”, bem como “depressões e estados de melancolia”.
Mesmo depois da I Grande Guerra, que pôs fim ao domínio Austro-Hungaro, Opatija manteve essa aura de ser a “Meca” do turismo de saúde, altura em que os italianos escolheram esta cidade tão perto das suas fronteiras como o principal resort para restabelecer forças. “Opatija foi promovida a lugar que tinha um efeito milagroso sobre os doentes e cansados”, lê-se num dos guias da cidade. E depois da II Grande Guerra, esses atributos estiveram presentes na fundação da Talassoteraipa – um hospital, aberto em 1957, especialmente para cardíacos, gente com problemas respiratórios e doenças reumáticas. Hoje, se alguma coisa dói, são os olhos que vêem mais beleza do que a memória humana pode reter. E o coração, quando chega a hora da despedida.