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    Mulher coberta com as lamas numa praia de Nin Mulher coberta com as lamas numa praia de Nin

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No país que combate a melancolia

Foi em 1964 que Hitchcock o disse, enquanto visitava um fotógrafo local, seu amigo, de nome Ante Brkan. “Há quem graceje com essa afirmação dizendo que o realizador já teria bebido maraschino [licor de ginja]”, acrescenta a guia, com um sorriso, enfatizando que o tal licor é bastante forte. Mas, com ou sem álcool, será fácil dar razão a uma afirmação tão hiperbólica, se se tiver a oportunidade de ver o sol a desaparecer nas águas do Adriático. E há óptimos locais para isso, como a instalação pública denominada Saudação ao Sol ou o Órgão de Mar, duas criações recentes situadas na marginal.

O Órgão de Mar é uma engenhosa construção concebida por Nikola Basic e inaugurada em 2005. Caracteriza-se por aberturas feitas nos degraus de mármore da escadaria que dá acesso às águas do Adriático e funciona da seguinte forma: sempre que a maré sobe ou quando um barco passa pela marina e agita as águas naquele local, as ondas batem nos degraus e o ar passa pelo sistema de tubos de plástico e pelas cavidades que ficam por baixo do mármore, o que produz e faz ecoar um som, como se se tratasse de um órgão. É um som algo melancólico, diz quem já o ouviu – e lá voltamos ao adjectivo com que já nos tínhamos cruzado.

Mas não há melancolia em Zadar. É até uma boa vacina contra estados de alma desse género. A cidade está repleta de museus, ruínas romanas e exemplares da arquitectura medieval. Em alguns espaços públicos subsiste a marca de um passado recente, marcas de uma guerra civil que não se apagaram, porque todos querem esquecer, mas é preciso lembrar, que “tudo muda num instante e quando menos se prevê”, resume Paula.

Dali é fácil zarpar por mar através da Jadrolinija, um ferry que liga a ilhas e assegura também acesso fácil internacional a outros destinos, como Itália. Como toda a Dalmácia, Zadar foi regida por Veneza no século XV. Ainda hoje tem a cultura como marca identitária, por meio da música, do teatro e do cinema. E da criatividade, bem patente na outra instalação pública já referida, a Saudação ao Sol. Obra do mesmo arquitecto Nikola Basic, encontra-se na ponta da península de Zadar, muito perto do Órgão de Mar e é composta por 300 placas de vidro instaladas no solo, perfazendo um círculo de 22 metros de diâmetro.

Por baixo do vidro existem células fotovoltaicas que, durante o dia, acumulam  a energia proveniente do sol e que, à noite, iluminam esse círculo com luzes de diversas cores. Parece uma pista de dança, mas a Saudação faz mais do que isso: fornece energia eléctrica a todo o sistema de iluminação pública da marginal, com um custo três vezes inferior ao da energia eléctrica fornecida pela rede pública. Além disso, simbolicamente representa a forma geométrica de um anfiteatro que inclui uma representação do sistema solar, com os planetas e as órbitas.

Resumidamente, a cidade é uma antiga zona portuária, muralhada e com torres, construída numa península segundo os preceitos urbanísticos dos romanos, com as ruas principais a estenderem-se de forma longitudinal. Repositório da arquitectura antiga, medieval e renascentista, o turismo de Zadar dá destaque ao que resta do Fórum Romano e à catedral de Santa Anastácia.

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