Fugas - Viagens

  • Paulo Pimenta
  • Carla Tomás
  • Nelson Garrido
  • Paulo Pimenta
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Enric Vives-Rubio
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Viagem Medieval
em Terra de Santa Maria
    Viagem Medieval em Terra de Santa Maria Manuel Roberto
  • Viagem Medieval
em Terra de Santa Maria
    Viagem Medieval em Terra de Santa Maria Paulo Pimenta
  • Fernando Veludo/nFactos

Continuação: página 2 de 8

No Verão a Idade Média é uma festa

Talvez seja esse lado teatral que leva Fernanda Cravidão a falar de quase caricaturas, em alguns casos. Dá o exemplo do mendigo, personagem sobrevalorizado, omnipresente em todas as feiras medievais, de preferência leproso e desdentado. Noutros casos, há tentativas de “desmistificação”: “Nós nunca fazemos feiras medievais, porque estamos mais virados para a pedagogia e explicações técnicas: por que usavam armas diferentes em determinados contextos, como se faziam as armas”, explica Mário Ribeiro. “O nosso métier é mais técnico”, por isso o ambiente natural da APRH é mais museológico. “Quem vai a uma feira medieval espera ver algo que não é coerente com a realidade”, defende, “e não se pode defraudar as expectativas do público. É um produto que vende. Nós afastamo-nos e convidamos membros do público a envergar uma armadura de 20 quilos, juntando-lhe uma espada de 1,5 quilos e ver que não é possível combater com a velocidade a que os filmes nos habituaram”.

Romanos e medievais

Se o nosso tempo está marcado por estas imagens, a verdade é que as recriações históricas começaram muito antes das imagens em movimento fazerem parte do nosso quotidiano. A história lembra que os romanos recriavam cenas das suas batalhas mais famosas nos anfiteatros e na Idade Média revisitava-se o Império Romano. No século XVII, tornaram-se populares em Londres a recriação de batalhas e a partir daí as recriações históricas começaram em crescendo nesse país, que com o Romantismo oitocentista redescobre a Idade Média – e os torneios medievais tornaram-se um “hábito”. 

Já no século XX, “os anos 60 e 70 são de descoberta deste nicho de actividade de turismo cultural no resto Europa”, explica Roberto Reis, doutorando em Turismo, Lazer e Cultura na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e professor convidado de Cultura, Turismo e Desenvolvimento na Universidad Rey Juan Carlos (Madrid), sobretudo “em França, Espanha e Escandinávia”. Em Portugal, “o interesse despertou nos anos de 1990, com o trabalho da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses”, nota Roberto Reis, depois do “trabalho interessante da APOM [Associação Portuguesa de Museologia], sobretudo no incentivo para que as escolas começassem a trabalhar a vertente histórica”. Foi em 1986 que a APOM trouxe para Portugal a técnica da “história viva” colocando-a ao serviço do turismo cultural e do lazer – mas também da museologia e da educação. Agora, turismo cultural, lazer, educação e até museologia, caminham muitas vezes juntos na revisitação da nossa memória histórica.

Boom e banalização?

E voltamos ao país onde há recriações feitas por escolas, por autarquias, por associações locais e por associações de entusiastas, um modelo muito anglo-saxónico (é este o caso da APRH, criada por “haver uma massa crítica de pessoas com a mesma visão do que é a recriação e como deve ser implantada”). Há, realmente, um boom de recriações históricas e tal demonstra, na opinião Roberto Reis, “interesse na história”. “Quando pegamos em adultos e crianças e os conduzimos pela história percebemos que eles querem conhecer o seu passado.” No entanto, há um risco, grave, nesta explosão de recriações, o da banalização, avisa Fernanda Cravidão. “É, de certa maneira comum a fenómenos, diria epifenómenos, que muitas vezes têm sucesso em determinado território. Por questões ligadas a este ou meramente circunstanciais.” “Como teve êxito”, prossegue, “outros lugares, e aqui está parte da justificação para o boom, tentam copiar de alguma maneira o modelo, adaptar ao seu território”. Mário Ribeiro concorda com a banalização e acrescenta-lhe a “perda de qualidade”. “Se imaginarmos que há, digamos, cinco grupos de recriação histórica em Portugal de grande qualidade, eles não podem estar em todo o lado”, exemplifica, sublinhando, porém, que “esta não é uma questão só desta actividade. A qualidade sofre com a massificação”.

--%>