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No Verão a Idade Média é uma festa

Por Andreia Marques Pereira

De Norte a Sul, as recriações históricas sucedem-se. Com o calor do Verão chega a Portugal a febre das feiras e festas medievais. Um passeio pelo país na máquina do tempo.

Os celtas reapareceram em Lagoa, o imperador Adriano passou por Alter do Chão mas foi em Tróia que se serviu o garum (o molho de peixe produzido no que é o maior complexo de salga de peixe do Império Romano que chegou até hoje), reafirmou-se a fundação da nacionalidade em Arcos de Valdevez, D. Dinis e D. Isabel já visitaram Coimbra e preparam-se para passar 10 dias em Santa Maria da Feira (estes monarcas tiveram, têm, várias aparições este ano), piratas atacaram Matosinhos, em Leça do Balio assistir-se-á ao casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles, já terminou a primeira invasão napoleónica no Vimeiro e em Agosto começará a terceira, em Almeida. Portugal entrou, novamente, numa máquina do tempo e o Verão é feito de recriações históricas – de norte a sul, com predominância a norte do Tejo. 

Não é novidade, mas é uma tendência que se vem acentuando nos últimos anos. Começou com a Idade Média (em Coimbra) e tem-se alargado a outras épocas históricas: de Roma ao oitocentos, Portugal revisita a sua história. Contudo, parecem existir poucas dúvidas: aparentemente, não há período de que o país mais goste do que o medievo – há mais de 120 feiras, mercados, medievais no país, desde a capital à mais remota vila. Os motivos são vários, mas um sobressai: temos os cenários para isso. “Muitas pequenas vilas/cidades em que aparecem estas recriações têm o espaço cénico medieval, o território medieval, a matriz medieval de ruas estreitas e tipologias arquitectónicas”, afirma Fernanda Cravidão, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, coordenadora do doutoramento em Turismo, Lazer e Património e que faz questão de fazer um ponto prévio referindo não ser “conhecedora, sob o ponto de vista científico, do modo de fazer recriações históricas”, a sua área, diz, “é o turismo cultural, os centro históricos”. “O que falta?”, continua, “meter os personagens”. 

Mário Ribeiro, da Associação Portuguesa de Recriações Históricas (APRH), que faz recriações que abrangem o período entre II a.C. e o século XIX, concorda: “A nossa maior procura é para o mundo medieval e acho que é porque temos estruturas medievais em excelentes condições. Qualquer sítio onde haja um castelo, o visitante aceita bem, porque estão no espaço físico real”. No ano em que a Feira Medieval de Coimbra comemora 25 anos, que a tornam na mais antiga do país, e em que a Viagem Medieval de Santa Maria da Feira celebra 20 edições, que a transformaram no maior evento deste tipo na Península Ibérica, pode falar-se de um boom de recriações históricas? 

Legiões romanas, reis e rainhas, cavaleiros e damas, exércitos portugueses, castelhanos e franceses; taberneiros e artífices, bobos e jograis, mendigos e cuspidores de fogo, malabaristas e acrobatas; oficiais, nobres e até piratas; e, nesta cosmogonia, muita “arraia-miúda”, ou seja, o povo, de ontem e de hoje: os figurantes e os visitantes que circulam nestes mundos como se vivessem num filme ou num livro. Porque muito do imaginário destas épocas é construído através desses meios – e bastante teatralizado, tal como no grande ecrã, mas esse é como que um pacto implícito entre organizações e multidões que se deslocam a estes eventos. Mário Ribeiro, da APRH, fundada em 2001 aglutinando pessoas que já se dedicavam às recriações, não tem dúvidas de que “o que vemos mais, sobretudo nas feiras, é a teatralização, na qual o compromisso é mais com quem vem do que com quem faz, porque há necessidade de o público sentir uma ligação com o que vê”. 

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