Fugas - Viagens

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No Verão a Idade Média é uma festa

E os meses de Verão são o pico desta actividade, em que “grandes eventos se sobrepõem a mais pequenos”, assinala Roberto Reis. No dia em que falámos com o responsável da Velha Lamparina – União de Artes e Ofícios e Recreações Históricas, Manuel Santos, a associação estava a organizar duas recriações: uma feira à moda antiga em Amarante e uma feira medieval em Campo de Ourique (Lisboa) – e no fim-de-semana passado, por exemplo, dividiu-se entre a feira quinhentista de Viana do Alentejo e o mercado oitocentista do Vimeiro (que acompanha a Batalha do Vimeiro). “Para nós, quanto mais destes eventos melhor, porque podemos vender directamente ao consumidor, prescindindo dos intermediários, as lojas.” A associação de artesãos com muitos anos de experiência em vários tipos de recriações – medievais, muitas, romanas cada vez mais, mas que abraça qualquer período histórico desde os primeiros povos da península até ao século XX – considera que a banalização não é um peso, “o que prejudica são os mercadores”. Ou seja, aqueles que se limitam a vender produtos que vão comprar a armazéns. Este foi, aliás, o motivo que levou à criação da associação, “proteger os artesãos”.

Realidade vs ficção

Mas a Lamparina Velha, sendo uma associação de artesãos, também assegura animação à época – monta toda uma recriação. “Temos equipa de animação, à parte, que nos orgulha muito. São mais de 50 animadores, sempre a mesma equipa, que inclui alguns com formação em teatro.” Sempre que há “pouco contexto histórico na terra”, entra mais a parte teatral, explica, e outras animações paralelas, desde passeios de burro, espectáculos (de rua e de palco) relacionados com a história portuguesa (“fazemos pesquisa”) a engolidores de fogo. 

Voltamos à questão da ligação do território com os eventos. Nem sempre há “âncoras”, é certo, e em alguns locais os eventos parecem um pouco “artificiais”, “mas cada vez menos”, considera Roberto Reis. “Começa a haver preocupação em encontrar temática relacionada com o território”, afirma. E o “respeito pela identidade local” aliada a alguma “autenticidade” podem ajudar a combater “a banalização que arrisca tornar efémeras algumas dessas manifestações”, defende Fernanda Cravidão. 

Aqui entra a questão do rigor histórico, ou ausência dele. “Acho que o rigor histórico é importante na atracção dos públicos, as pessoas sentem-no. Agora se as pessoas vão pelo rigor histórico ou lúdico... Não sei se há muita gente que se interesse ou tenha conhecimento histórico para avaliar com exactidão”, nota Fernanda Cravidão. “Sei que há académicos que trabalham para o rigor histórico de algumas feiras e se calhar essas mantêm-se, percebe-se que não são iguais a todas as outras.” “A maioria das pessoas não tem noção da história, daí a importância do rigor científico das recriações”, afirma Roberto Reis, “quando não existe desaparecem. Foi o que aconteceu com o Festival Erótico Medieval dos Carvalhos [Vila Nova de Gaia]”. Afinal, diz Fernanda Cravidão, se as recriações tiverem esse rigor podem ter uma função educativa, até para as escolas que têm oportunidade de levar os alunos a visitar.

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