Fugas - Viagens

  • Paulo Pimenta
  • Carla Tomás
  • Nelson Garrido
  • Paulo Pimenta
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Enric Vives-Rubio
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Viagem Medieval
em Terra de Santa Maria
    Viagem Medieval em Terra de Santa Maria Manuel Roberto
  • Viagem Medieval
em Terra de Santa Maria
    Viagem Medieval em Terra de Santa Maria Paulo Pimenta
  • Fernando Veludo/nFactos

Continuação: página 4 de 8

No Verão a Idade Média é uma festa

Porém, avisa, “temos de pensar no mercado mais geral”. “Imaginemos uma pequena vila do país: tem o cenário ideal para recriação, mas provavelmente não tem capacidade financeira para mandar fazer artefactos, não tem capacidade humana para assegurar tudo”, descreve, “e assim é mais operacional e mais rápido encomendar feira. Não estamos na Idade Média, estamos a fazer evento para o século XXI e isso traz outras formas de organizar”. Mário Ribeiro volta a usar a analogia do cinema e da televisão para falar do rigor histórico: “há um equilíbrio”, diz, “que tem de ser gerido e que passa não só por aquilo que acontecia na realidade mas por aquilo que o público espera ver, o mesmo que vemos no ecrã e esperamos que seja realidade”. 

Agora, não se podem fazer é o que Fernanda Cravidão chama de “recriações descartáveis”, porque, por exemplo, a Coimbra medieval não era igual a Guimarães medieval ou às regiões transfronteiriças: os produtos, as roupas, o artesanato, a alimentação, as actividades eram diferentes de lugar para lugar. “E o que vemos é que por detrás de tudo parece estar uma organização quase fordista de duas ou três empresas que geram esses eventos”, refere “e acabamos por encontrar o mesmo mendigo em Braga e em Coimbra”. A Lamparina Velha “tenta ter o máximo de rigor histórico”, assinala Manuel Santos, “mas nem sempre é conseguido”. “A parte comercial manda mais do que rigor histórico”, reconhece. “O nosso objectivo é lúdico, de lazer, queremos que as pessoas saiam contentes”, justifica e a Lamparina Velha é uma associação de “recreação” não “recriação”.

Legado económico

E agora vários lugares de Portugal revisitam vários períodos históricos, criando um puzzle histórico onde outras eras são trazidas à vida no mesmo território. Por exemplo, Marco de Canaveses tem um mercado romano (nas ruínas de Tongobriga) e uma feira medieval; Braga alinha pelo mesmo diapasão; Matosinhos recria a lenda de Cayo Carpo (época romana), é atacada por piratas do século XIV e tem feira medieval. “O período medieval deu resultado, vamos em busca de outro tempo histórico: romano, quinhentista... É um querer buscar mais gente, mas provavelmente pode alienar público”, avalia Fernanda Cravidão. Actualmente, há “uma preocupação muito grande em fazer com que os lugares sejam visitados. Por motivos diferentes: financeiros, renovar lugares, trazer gente onde não existe (quase) gente, mapear esses lugares. Mas é evidente que cansa.” São formas de marketing territorial ou branding territorial, “que é mais abrangente”. “Buscam-se os grandes ciclos da história nacional como forma de valorizar territórios, é tão simples quanto isso”. 

Não há dúvidas, assegura Roberto Reis, de que as recriações históricas deixam “um importante legado económico nas comunidades e, em alguns casos, humano”, pelo envolvimento de colectividades locais, pelo voluntariado e até pela formação de novos grupos. Por isso, acredita que “quando os eventos estão consolidados não se desagregam” e para assegurar tal defende a criação de uma federação portuguesa de recriações históricas que permitiria “chegar a um rigor histórico mais aprofundado, com partilha de experiências e envolvimento de universidades”. Tudo para que os visitantes consigam o que buscam: opinião de Mário Ribeiro, “fugir da realidade”, uma “imersão noutro mundo”. Aliás, cita dois trabalhos do Instituto Politécnico de Leiria em que, além do impacto na economia local que as recriações proporcionam, se estudaram as motivações do público – resumidamente, “sentir-se noutro ambiente” e “comer e beber”. Recorrendo ao latim, uma espécie de panis et circenses benévolo.

--%>