Uma estância suíça
As baleias são apenas uma das maravilhas que a natureza tem para oferecer no Canadá. A viagem não nos levou a parques naturais, mas andar nas ruas do país é estar em contacto permanente com a presença de animais selvagens. Parte do trajecto entre a Cidade do Quebeque e a Baía de Ste-Catherine é feita ao longo de uma gigantesca vedação de arame, que procura manter os alces fora da estrada e dos terríveis acidentes que a sua presença pode causar, com consequências mortíferas para humanos e o animal. Na via rápida que circunda Toronto, recentemente inaugurada, há corços na berma da estrada, que seguimos com os olhos, felizes por os ver, preocupados por temermos que eles possam escolher o caminho errado e entrar na estrada, em vez de voltarem para o verde que a rodeia. Mas em nenhum dos sítios onde fomos nos sentimos tão embrenhados na natureza como no caminho para Mont-Tremblant.
Seguimos no autocarro, cada vez mais rodeados de verde, com árvores de folhagem densa a estenderem-se até perder de vista e não conseguimos deixar de pensar como tudo isto deve ser deslumbrante no Outono. Como deve ser bonito passear por ali com as copas das árvores pintadas de amarelo, laranja e vermelho. Ao microfone do autocarro, Luc prefere falar do Inverno, de como tudo isto é bonito quando se cobre de neve. E ele tem razão. Também deve ser. Além disso, Mont-Tremblant é uma espécie de cidade de faz-de-conta, uma estância de esqui feita à medida de uma estância suíça e plantada junto à montanha para receber os amantes dos desportos de Inverno. Que também se enche no Verão, diga-se, porque há trilhos, lagos e até o concurso do Homem-de-Ferro (Ironman) da América do Norte se desenrola aqui.
Na minúscula cidade feita à medida do turismo, onde os carros não entram, há lojas, hotéis e restaurantes em edifícios coloridos impecavelmente tratados. Lá em cima, onde o teleférico pára, há uma paisagem que o pode absorver durante muito tempo. A cidade fica ao fundo, aninhada no verde, e os lagos estendem-se à sua volta. Um esquilo atravessa-se no nosso caminho, escuro e grande, antes de desaparecer na parede de rocha onde estão colocadas lápides em memória de montanhistas que morreram. Podíamos sentar-nos numa pedra e ficar ali, só a olhar a paisagem, durante horas a fio. Mas isso era se alguém nos tivesse avisado que era preciso levar repelente. Porque lá em cima há verdadeiros bandos de moscas minúsculas que não lhe vão dar descanso. Sem que se aperceba vai estar rodeado por elas o que, além de ser irritante, pode deixar algumas mazelas. Por isso, já sabe: para poder apreciar convenientemente a razão que o levou ali, cubra-se e use repelente. A natureza também tem destas coisas.
Toronto à espera
Há cidades que têm a capacidade de nos pôr a duvidar daquilo que achamos que sabemos sobre nós próprios. Por exemplo: acreditarmos que somos uma pessoa de sítios pequenos, que gostamos de aldeias sossegadas mais do que de cidades grandes e movimentadas. E, depois, chegamos a Toronto, a segunda cidade com maior concentração de arranha-céus da América do Norte, logo a seguir a Nova Iorque, e afinal descobrimos que não é bem assim. Que nos sentimos bem ali, que se pudéssemos escolher, de todos os locais que visitámos, era provavelmente ali que queríamos ficar mais tempo. A caminhar entre os altos edifícios envidraçados, a descobrir os seus vários bairros, a conhecer os museus (não tivemos tempo de ver um que fosse).