Do topo da Torre CN é bem visível a dimensão de Toronto, onde, como diz Luc, cada regresso traz a hipótese de descobrir um edifício novo, tal é a dinâmica da construção na cidade. Mas nas ruas o peso de se estar na maior cidade do Canadá, uma metrópole com seis milhões de habitantes, não se sente verdadeiramente. O que se sente é uma harmonia curiosa, numa cidade profundamente heterogénea, em que um em cada dois habitantes é imigrante ou descendente de imigrantes.
Ao final de um dia de trabalho, o centro financeiro está cheio de gente que regressa a casa, enchendo as ruas de uma agitação típica das grandes cidades. Mas na Nathan Philips Square (NPS) há grupos sorridentes a deixarem-se fotografar junto ao nome da cidade, escrito em letras gigantes e coloridas, pessoas a ouvir música e a comer gelados ou quem pare para apreciar o edifício da Câmara Municipal, construído em 1965, pelo arquitecto finlandês Viljo Revell, e que provavelmente lhe fará lembrar o trabalho que Oscar Niemeyer fez em Brasília, a capital brasileira.
À noite, dê um salto à Praça Dundas, uma “mini-Times Square”, como a descreve Luc, referindo-se à animada e iluminada praça nova-iorquina. Na Dundas não faltam, de facto, ecrãs animados por todo o lado, mas há muito mais para o entreter. Há um palco (parece haver palcos em todas as cidades canadianas oferecendo animação no Verão) onde uma banda embala o público ao som de música reggae — e uma velha oriental dançando, mais do que ninguém, sozinha e indiferente ao que a rodeia. Há uma mistura feliz de gente de todas as cores e idades a conviver. Há um Hard Rock Café na esquina, à porta do qual se vai alinhando, ruidosamente, uma verdadeira montra de Harleys e outras potentes máquinas de duas rodas. Há calor e cerveja e um ambiente descontraído, artistas de rua e gente que está só a passar um bom bocado. Saia dali e caminhe em qualquer direcção e vai encontrar restaurantes e bares para se entreter durante muito tempo.
Toronto, já dissemos, tem muitos museus. E tem ilhas e até uma zona de praia. Mas não tivemos tempo para ir conhecer qualquer uma destas atracções. No sábado, o último dia no Canadá, seguimos o conselho do nosso guia e caminhamos até ao distrito conhecido como Destilaria.
Atravessar o distrito financeiro numa manhã de sábado é percorrer uma cidade deitada à preguiça depois de uma semana de trabalho. De bicicleta ou a pé, com um cão pela trela ou a empurrar um carrinho de bebé, os habitantes de Toronto parecem não ter pressa, enquanto caminham à sombra dos altos edifícios espelhados. No Mercado St. Lawrence, um belíssimo edifício restaurado de 1845, vende-se de tudo (até pastéis de nata) e se quer apetrechar-se com iguarias para o almoço, bem pode fazê-lo aqui.
Mas, se vai continuar até à Destilaria, talvez não valha a pena. Os antigos armazéns de tijolo vermelho, que em 1832 foram construídos para o que chegou a ser a maior destilaria do império britânico — a Gooderham & Worts — foram restaurados e estão hoje transformados em restaurantes, galerias de arte e lojas alternativas. Depois de espreitarmos várias ementas, escolhemos um pátio mexicano para almoçar (tínhamos experimentado um restaurante vietnamita na noite anterior) e juntamo-nos aos ocupantes animados do espaço amplo.