Fugas - Viagens

  • Plaza Mayor de Salamanca
    Plaza Mayor de Salamanca NELSON GARRIDO
  • Zamora
    Zamora ARIUSZ KLUZNIAK
  • Igreja de San Pablo, em Valladollid
    Igreja de San Pablo, em Valladollid BBSFERRARI/GETTY IMAGES
  •  Academia de
Caballeria de Valladolid
    Academia de Caballeria de Valladolid DANIEL GARCIA
  • Toro
    Toro MARIUSZ KLUZNIAK

Continuação: página 3 de 7

Castela e Leão: Viagem no tempo da história ibérica

Com ou sem rã, muitos foram os que aqui se graduaram. No século XVI, quando um estudante conseguia terminar o doutoramento, a tradição ditava que os amigos traçassem um V de vitória e as iniciais do nome do aluno numa das paredes da escola. Nos primórdios com sangue de animais, mais tarde com tinta. Ainda hoje, muitas fachadas contam a vermelho os sucessos de quase 800 anos em funcionamento.

Atrás do histórico edifício – onde actualmente se podem visitar as velhas salas de aulas em redor do claustro, a capela ou a biblioteca e conhecer um pouco da história da universidade – ficam as duas catedrais. Uma nova e outra velha, unidas entre si. De fora, mal se consegue delinear onde começa uma e termina a outra. No interior, as diferenças são abismais. A velha, românica, é intimista e despojada. A nova, mistura de gótico, renascentismo e barroco, revela um portento de vontades magnânimas que levaram mais de 200 anos a serem concretizadas (as obras estiveram paradas durante dezenas de anos por falta de verbas). Quando lá chegamos, já não vamos a tempo de subir ao alto da torre, um dos miradouros com as vistas mais bonitas da cidade, garantem-nos (e que o terramoto lisboeta de 1755 inclinou ligeiramente).

Sem panorâmicas, ficamo-nos a admirar a Porta de Ramos da catedral nova. A fachada da entrada principal foi restaurada em 1992 e ganhou novos e populares inquilinos entre os motivos decorativos. Não encontrámos nenhuma rã, mas há outros personagens inusitados. Uma cegonha, um lince, um mostrengo a comer um gelado de cone ou um astronauta. É o contemporâneo a inscrever-se na pedra do passado.

Toro, da água ao vinho

Desde que saímos do autocarro que Toro passa por nós em ruas secundárias sem que nada chame particularmente a atenção. Até chegarmos aqui: varanda sobranceira à infinita planície. Viramos momentaneamente costas à pequena cidade, que o cenário que se avista é digno de quadro impressionista. A estrada parece descer errante pelo cerro onde Toro se altiva para liquidificar-se numa curva e fazer-se Douro. Rio de cimento e rio de água doce, o tom acinzentado de um e de outro em contraste com o colorido da Primavera circundante: prados verdejantes pejados de florinhas amarelas e gordas papoilas, os campos lavrados. Na placidez da paisagem, apenas o silêncio é interrompido por uma dezena de homens de cabelo grisalho que, sentados no beirado do miradouro, desfiam os dias da reforma. Ela é com certeza mais bonita daqui.

Lavada a vista, concentramos atenções no edifício que se agiganta atrás de nós, feito da mesma pedra de areia dourada que tingia Salamanca. É a Colegiata de Santa María la Mayor, construída nos séculos XII e XIII, numa conjugação de estilos românico e gótico. Lá dentro, o motivo da nossa visita à cidade.

A fundação As Idades do Homem foi criada em 1988 para promover o acervo histórico de arte sacra desta região espanhola e, desde então, é organizada uma exposição anual, sempre com uma nova temática e numa localização diferente. Na maioria das vezes, assenta arraiais em povoações da comunidade autónoma, mas já teve exibições em Nova Iorque ou Antuérpia.

--%>