Fugas - Viagens

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    Plaza Mayor de Salamanca NELSON GARRIDO
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    Zamora ARIUSZ KLUZNIAK
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    Igreja de San Pablo, em Valladollid BBSFERRARI/GETTY IMAGES
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Caballeria de Valladolid
    Academia de Caballeria de Valladolid DANIEL GARCIA
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    Toro MARIUSZ KLUZNIAK

Castela e Leão: Viagem no tempo da história ibérica

Por Mara Gonçalves

Entrámos na cápsula do tempo e viajámos por histórias de príncipes, reis e rainhas, lendas medievais e muitos monumentos. Salamanca, Toro, Zamora e Valladolid. Quatro cidades, quatro pontos de partida para conhecer Castela e Leão.

Castela e Leão é a maior comunidade autónoma espanhola, com quase 95 mil quilómetros quadrados. Desenha a fronteira com o Nordeste português, sobe aos pés dos Picos da Europa, expande-se pela meseta central da Península Ibérica quase até Saragoça, desce junto à orla de Madrid. Bem arrumado, cabia lá Portugal inteiro – continente e ilhas – e ainda sobrava espaço.

Apesar do tamanho, em Castela e Leão não vivem mais de dois milhões e meio de habitantes. É lago agrícola pingado de ilhas povoadas de passado. Muralhas e castelos, ruelas medievais, palácios, igrejas monumentais. Testemunhos de pedra de um tempo em que, ainda dividida, a região escreveu parte importante da história ibérica. O estatuto que lhe concedeu autonomia em 1983 definiu-a como “comunidade histórica e cultural”. E é isso que tem, acima de tudo, para oferecer: uma viagem na cápsula do tempo.

Entre planícies cerealíferas – tal como o Alentejo em Portugal, também Castela recebeu outrora o epíteto de celeiro do país – vamos descobrindo pequenas cidades e vilas muralhadas com centros históricos preservados. E centenas, centenas de monumentos. Os números dão para impressionar: mais de 300 (vestígios de) castelos, 11 catedrais, dezenas de igrejas e palácios, oito espaços classificados como Património da Humanidade pela Unesco (desde os centros históricos de Ávila, Segovia e Salamanca a parte do caminho de Santiago ou dos vestígios de arte rupestre do vale do Côa). Tudo somado, Castela e Leão concentra “54% de todo o património arquitectónico, artístico e cultural de Espanha”, indica a guia Mercedes Villanueva.

Os dois dias e meio que por lá viajámos não chegaram, por isso, para conhecer toda a região nem, tão pouco, cada cidade onde estivemos. Mas a rápida passagem por cada local foi o suficiente para deixar-nos com vontade de regressar, de ter mais tempo para descobrir tudo o resto. E dar-nos quatro pontos de partida, com argumentos suficientes para valer a pena rumar àquela região raiana espanhola.

Salamanca, a dourada

Já não chegamos a tempo de assistir às filmagens, mas ainda há feno a cobrir o chão empedrado. A rua Compañia – viela encolhida entre a imponência da fachada de La Clerecía e a peculiaridade da Casa das Conchas – foi um dos cenários escolhidos em Salamanca para dar vida a Still Star-Crossed. A nova série de televisão norte-americana, criada pelos mesmos produtores de Anatomia de Grey e Scandal, ainda não tem data de estreia, mas o teaser já anda a circular na Internet.

Horas antes de aqui chegarmos, pais e primos de Romeu e Julieta pisavam a mesma palha remexida, desfilavam frente às câmaras com as capas longas e os archotes que mais tarde veremos no vídeo publicado no Youtube. Actores e figurantes ensaiavam a resolução do conflito entre as famílias Capuleto e Montecchio, agravado pela morte trágica do par romântico, tal como conta o livro homónimo de Melinda Taub, que dá origem à série.

Horas antes de aqui chegarmos, dizíamos, a ficção fazia-se máquina do tempo desarranjada pelos caprichos da imaginação e das mega produções. Metia nas ruas e nos palácios de Salamanca, a italiana Verona do século XVI. E se não estivéssemos agora a trepar os olhos nas cascas de bivalve que compõem a fachada da Casa das Conchas, teríamos acreditado no artifício.

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