A jóia da colecção é a majestosa catedral, expoente máximo do românico zamorano e influência clara no traçado arquitectónico da colegiada de Toro e da catedral velha de Salamanca. É famosa pela cúpula bizantina, uma abóbada coberta por escamas de pedra, mas a torre sineira – mais alta e austera – rouba-lhe um certo protagonismo. No interior, destacam-se o coro da igreja e, no museu da catedral, uma custódia do século XVI e tapeçarias flamengas.
Aqui perto, nas costas do edifício, fica o antigo castelo, hoje centro de arte contemporânea. Mas o nosso caminho faz-se pela rota do românico, com visita a outras igrejas icónicas da cidade, como San Juan de Puerta Nueva (cuja torre ficava antigamente encostada a uma das portas do primeiro pano de muralha, hoje ao centro da Plaza Mayor) e La Magdalena (que integra um mausoléu do românico tardio em pedra trabalhada, repleto de simbolismos).
Não tivemos tempo, mas o centro histórico de Zamora – onde as igrejas românicas convivem com edifícios modernistas do século XIX, incluindo palacetes burgueses e prédios comerciais com marquises forradas a madeira escura – vale uma visita mais demorada. Para os amantes de História, um pormenor: foi aqui que D. Afonso VII, então rei de Leão e Castela, reconheceu a independência do reino português a 5 de Outubro de 1153, inscrita no Tratado de Zamora.
Valladolid, a capital
Quando o autocarro pára junto à praça de São Paulo já estamos entre histórias de príncipes e rainhas. Valladolid, hoje capital da comunidade autónoma raiana, foi sede da corte de Castela e mesmo capital do reino espanhol durante seis anos. Dessa época de fausto e prosperidade, vivida na senda da expansão marítima e comercial entre finais do século XV e inícios do século XVII, sobrevivem dezenas de palácios, casas nobres e edifícios religiosos. Na praça de São Paulo, estamos no trono da cidade real.
À nossa frente, do outro lado da rua, ergue-se o palácio que entre 1601 e 1606 foi sede da coroa espanhola. Durante o curto período, Valladolid era capital e Filipe III governava o país a partir daquele edifício de cara simples e cor de ovo, antes de se mudar definitivamente para Madrid. O pai, Filipe II, nasceu no Palácio de Pimentel que surge ao nosso lado e foi baptizado na igreja vizinha (monarca que, em 1580, viria a conquistar soberania sobre Portugal, iniciando a dinastia filipina). E, não muito longe, no Palácio dos Vivero, Isabel, a Católica, ter-se-á casado com Fernando II de Aragão – casal que ficaria conhecido como “Reis Católicos”, responsável pela unificação do reino espanhol e pela introdução da Inquisição no país.
Apesar das casas reais que a circundam, é a igreja de São Paulo a soberana entre os turistas que calcorreiam a praça. A sumptuosa fachada em estilo gótico isabelino põe-se vaidosa para os retratos e as lentes fotográficas andam para a frente e para trás de chapéu-de-chuva, estudando o melhor ângulo para apanhar todos os pormenores esculpidos entre as torres sineiras. Há quem entre na igreja mas a maioria segue rapidamente caminho. É que atrás fica o antigo colégio de São Gregório, actualmente sede principal do Museu Nacional de Escultura. É o mais importante de Espanha neste ramo artístico e o único museu nacional de Castela e Leão. Só ali, está mais de metade do património espanhol na área da escultura, num acervo que integra peças desde a Idade Média ao início do século XIX, com especial destaque para os principais mestres da região.