Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
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  • “O meu pai”, recorda Isaura, “nunca nos deixou o sapato [de Natal] vazio”.
    “O meu pai”, recorda Isaura, “nunca nos deixou o sapato [de Natal] vazio”. Adriano Miranda
  • Aníbal, que é uns anos mais velho, também se lembra da laranja ou da maçã que ganhava no dia de Natal.
    Aníbal, que é uns anos mais velho, também se lembra da laranja ou da maçã que ganhava no dia de Natal. Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
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  • Mario Santos amassa o pão que vai a cozer no forno a lenha na Loja das Aldeias de Xisto
    Mario Santos amassa o pão que vai a cozer no forno a lenha na Loja das Aldeias de Xisto Adriano Miranda
  • Kerstin Thomas, umas das proprietarias e dinamizadora do centro criativo Cerdeira Village
    Kerstin Thomas, umas das proprietarias e dinamizadora do centro criativo Cerdeira Village Adriano Miranda

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Natal é quando o madeiro arde e a couvada está na mesa

A Cerdeira e as artes

É tempo de seguirmos para Cerdeira, uma aldeia de Xisto que é quase um conto de Natal. Aninhada na serra, com as casas descendo por entre os montes, o som dos ribeiros a correr à nossa volta, as escadinhas e ruas estreitas entre as casas, muito próximas umas das outras, fazem-nos pensar na força de vontade dos homens que primeiro ali construíram os seus abrigos, abrindo socalcos para plantar pequenas hortas, algumas árvores de fruto, oliveiras e criando currais para as muitas cabras que criavam — chegaram a ser 800 só aqui.

Hoje a Cerdeira é muito diferente. Tornou-se uma aldeia das artes e ofícios, com um encontro de artistas todos os verões, o Elementos à Solta, e vários workshops e residências ao longo do ano. Tudo porque, há perto de 30 anos, um casal de alemães descobriu esta aldeia em ruínas, com a vegetação já a engolir as casas, e decidiu mudar-se para aqui. A eles juntou-se outro casal português, e, com os filhos, foram recuperando, a pouco e pouco, as casas.

Kerstin Thomas, a artista alemã, é hoje a grande dinamizadora do centro criativo Cerdeira Village e é ela que nos recebe no café, numa das 16 casas entretanto recuperadas, também graças aos apoios que surgiram a partir do projecto Aldeias do Xisto. Ainda há algumas casas em ruínas, mas oito delas estão preparadas para receber visitantes — e Kerstin instala-nos numa, com sala em baixo e quarto em cima e uma varanda sobre a paisagem deslumbrante.

Podia nevar (há um postal com a imagem que registou o momento de um raro nevão, há uns anos) e seria um Natal perfeito. Há muitos veados aqui à volta e alguns deles podem vir até visitar-nos na aldeia. Há salamandras quentinhas e há histórias antigas que Kerstin ainda ouviu aos últimos habitantes de Cerdeira, entretanto já a morar noutras aldeias maiores, de como se vivia aqui antigamente. Alguns tinham ainda a memória das invasões francesas (que pouparam Cerdeira) e de como um dos homens era sempre mandado vigiar os caminhos para alertar caso os franceses avançassem para a aldeia.

Há ainda uma biblioteca (na casa antes reservada para dar algum privacidade aos recém-casados na noite de núpcias) e uma casa com camaratas onde se alojam os participantes nas residências artísticas. Por todo lado vêem-se peças de cerâmica, recordações da passagem do mestre japonês Masakazu Kusakabe (que vai voltar em 2017) que veio dar aulas e construiu um forno sem fumo, todo ele decorado com desenhos de caras japonesas.

Despedimo-nos de Kerstin porque temos almoço marcado na aldeia seguinte, Candal, onde encontramos Mário Santos a amassar o pão. Lisboeta, apaixonado pela serra, Mário veio há anos de férias com uns amigos e comprou uma das casas em ruínas no Talasnal, uns quilómetros mais acima. Foi ficando e há oito anos, precisamente numa venda de Natal, pediu à câmara autorização para usar uma vivenda na estrada do Candal. É aí que tem hoje, com a sócia Ana Pinto, a Loja das Aldeias do Xisto, onde vende, entre muitas outras coisas, os talasnicos, os óptimos bolos que a sua mãe criou, com castanha e mel, uma homenagem à serra.

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